domingo, 29 de setembro de 2019

2. Retrato em três por quatro



              Ela, após a aula, chegou até a sala dos professores, a propósito de tirar alguma dúvida. Mas não havia dúvida; havia certeza, desde quando fizera chamada nominal, quando a tinha visto num entrecruzar de olhos. Que olhos os dela! Era só confirmação. Tanto que a questão exposta ambos sabiam mero pretexto. Energia. Pura química. A jovialidade latente e a busca da experiência de quem fala fácil e de coisas por descobrir.
              Apenas uma garota. E era a vida em raios de ouro. Um encontro do que se iria completar em realização - um braço que o retiraria em redescoberta da floresta dos homens.
              Prontificara-se a escrever no quadro o que o professor ditava, com letra bonita, que o professor confessava não ter caligrafia. Os olhos, primeiro plano. A voz: “Professor”. O resto nem se fala. Era um primeiro dia de aula. Um primeiro dia do que se tornaria para sempre.
               Fosse cinema, haveria um fundo musical. A canção falaria por si só. Imagine agora somada à imagem. E ela: “Professor”. E o professor, conforme preparação, tendo que manter aquele controle de classe.
              À saída do colégio identificou-a em meio a muitas outras garotas a caminho de casa com o caderninho junto ao peito, e não era uma qualquer, se destacava - a menina dos olhos,  e então parou num bar, pediu uma bebida e, vendo-a passar ao longe, na outra margem da rua, nesse momento, chorou. E choraria tempos depois.

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