Dois
bolos, duas medidas
Ia fazer um bolo para o meu
aniversário de 60 anos, sem me falar nada. Estou vendo a labuta na cozinha. E
sem saber de nada, como de costume, entrei a revirar a cozinha bisbilhotando
coisa de comer. Até que me veio a ordem
expressa para não mexer no bolo sobre o fogão. Minha mulher e minha cunhada
exclamaram ao mesmo tempo:
- Mexe nesse daí, que é de
todo mundo; nesse daqui não.
Havia dois bolos: o de todo
mundo mexer e outro só para ver.
Não sabia dessa política em casa. Levei uns
quarenta e tantos anos para descobrir. No final, acostumei-me com o bolo que
“podia mexer” e fiquei atrás dele toda manhã. O outro tive notícia dele, nem
quis olhar mais.
A bênção
O professor Valmir, cara legal, falou para dar benção ao padre Capuchinho. Passei direto sorrindo, tomando por brincadeira o que era uma ordem do diretor.
A secretária
Então foi o que faltava para
o choro de desiludida. Aí tive que pedir menos e recuei diante de tanta luz
para aquela nova vida a dois, que se iniciava.
Desmanchamos ali mesmo um possível embrecho, com pedidos de desculpas
pela esfregação e amasso de reconhecimento, e desde então...
Ela chorou um bocado. A mesa
foi posta, e ela, loirinha dos olhos verdes e marejados, nem quis comer nada, o
que foi de me causar uma profunda sem graceza.
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