segunda-feira, 11 de outubro de 2021

 

Dois bolos, duas medidas

 

Ia fazer um bolo para o meu aniversário de 60 anos, sem me falar nada. Estou vendo a labuta na cozinha. E sem saber de nada, como de costume, entrei a revirar a cozinha bisbilhotando coisa de comer.  Até que me veio a ordem expressa para não mexer no bolo sobre o fogão. Minha mulher e minha cunhada exclamaram ao mesmo tempo:

- Mexe nesse daí, que é de todo mundo; nesse daqui não.

Havia dois bolos: o de todo mundo mexer e outro só para ver.

    Não sabia dessa política em casa. Levei uns quarenta e tantos anos para descobrir. No final, acostumei-me com o bolo que “podia mexer” e fiquei atrás dele toda manhã. O outro tive notícia dele, nem quis olhar mais.

 

 

A bênção

O professor Valmir, cara legal, falou para dar benção ao padre Capuchinho. Passei direto sorrindo, tomando por brincadeira o que era uma ordem do diretor.

                           A secretária

 Não se sabe bem como nem por que marcamos um almoço no restaurante esquinado do posto de gasolina do trecho que vai  para rodoviária, num encontro de muita ousadia de nossa parte. Eu, um Dom Juan jacaré e ela a secretária de uma colega. Tomaríamos umas cervejas e depois se veria o resto. Mas não, nem chegamos a esquentar um prévio namoro, ela passou a engatar coisas profundas que implicavam mudanças radicais, tipo separação. Eu iria me separar? E aí me trouxe para a realidade. Pelo que entendi, eu tinha que tomar a decisão naquela hora, de assumir o compromisso com ela, como um grande amor.

Então foi o que faltava para o choro de desiludida. Aí tive que pedir menos e recuei diante de tanta luz para aquela nova vida a dois, que se iniciava.  Desmanchamos ali mesmo um possível embrecho, com pedidos de desculpas pela esfregação e amasso de reconhecimento, e desde então...

Ela chorou um bocado. A mesa foi posta, e ela, loirinha dos olhos verdes e marejados, nem quis comer nada, o que foi de me causar uma profunda sem graceza.

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário