quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

 

Carmem

                        Ítalo estava no segundo ano do ensino médio e retornava de férias à sua cidade natal.  Camisa de malha azul claro, colocada por baixo da calça amarela. Com uma aparência úmida, ele mantinha o cabelo curto, exibindo um penteado com uma nuance de lavanda de marca trim, um costume herdado do pai. Ansiava pelo domingo para vestir sua camisa de malha azul claro, que a empregada já havia preparado no cabide. Como se estivesse à procura de uma namorada, buscava aproximação com uma colega do colégio. Uma menina loira. Ela havia chegado à cidade para estudar e residia com uns tios. No entanto, nas saídas para encontros amorosos, enfrentava uma vigilância rigorosa do primo. Podia ser por encomenda da família, que era muito comum por essas bandas.

                        Carmem possuía reputação de namoradeira. Afoita, ocultava no seu jeito inocente as cinzas de um vulcão em estado de hibernação. O primo era quem tentava apagar esse foco nela.  Até parecia que, com um casaco de frio, acreditasse expulsar nela esses demônios. No entanto, Ítalo estava na paquera e, sem se atinar para esses detalhes, precisava de uma namorada. Até o dia da festa na cidade, quando se apresentaria ao lado dela.  Um movimento adiante. Afinal, era uma jovem senhora, entendimento que ofuscava o lado regateiro da loirinha. Com certeza, enriqueceria seu histórico de rapaz.

                Feito o clique de um papo leve, restava gastar as horas com imagens que marcaram de beijos e abraços num banco da praça.

                        - Arranjei uma namorada para a festa – disse de sua alegria à irmã.

                        - Posso saber o nome?

                        - Lembra daquela lourinha, Carmem, que foi minha colega de ginásio?

                        - Ah, uma lourinha azeda – disse com desprezo.

                        Lourinha cheirosa, isto sim, pensou Italo. Com ela aprenderia a valorizar o beijo de língua, interrompido por uma blusada recebida do moleque, que era primo:

                        - Vamos embora, Carminha – desfechava uma blusada.

                        - Embora pra casa, Carminha, senão eu falo com mãe – desfechava outra blusada.

                        Até que enfim veio para cima de Carmem e deu uma com mais violência que acabou com o que era doce.

                        Durante as férias de 1977, na primeira noite da festa, Benedito, um amigo de infância de Ítalo, recém chegado todo invocado de São Paulo, foi quem lhe apresentou a namorada em um "paulistês" de cortar a respiração:

- Oi, Ítalo, você pode dançar com a Carmem? – disse pousando numa de porreta.

  

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