Nice era uma loura simples,
mas de confortos:
- Nice, você parece aquela
cantora do Kid Abelha.
Ela sorria seu sorriso
fofo. Aí que ficava mesmo parecida. De origem rural, ela nem conhecimento tinha
da artista. Fizera questão de mostrar um vídeo do grupo se apresentando na tv
com o charme da lourinha.
- Um encanto – disse
Edu. – Não podia ser você, Nice? – brincou à mesa da sua turma de cerveja, enquanto
ela, fazendo às vezes de garçonete, destampava as garrafas.
- Coitada de mim, nem
sei cantar, quanto mais... – disse a
garota.
- Aí já é luxo, Nice.
Bastava seu charme – disse Edu.
Um sorriso de Nice e
fim.
- Você não acompanhava,
né, Nice?
- Não. A gente não tinha
conhecimento dessas músicas. Ela canta bem, além de ser agradável.
- Ôxe, posição crítica
de Nice, rapaz – Edu começou fazendo resenha! – Olhe aqui, gente, o que Nice
achou de Paulinha Toller do Kid Abelha – espalhava pelo restaurante conversando
com os fregueses do restaurante e apontando para Nice, que ganhou o dia de
reconhecimento como artista do rock.
Não levou tempo para,
nessas brincadeiras, receber uma refreada da dona da casa. Uma cinquentona, de
argolas, que trouxera duas sobrinhas para a cidade, com boas perspectivas. Só
que as meninas tinham que colaborar. Assim,
Nice passava a ser mais reservada.
- Imagine se o
namorado, um delegado de polícia, pegar Nice nesse relaxo com vocês! – disse a
irmã de Nice,
- Delegado, é? –
estranhou Edu.
- E regional ainda por
cima – informou o garçom entrando na conversa.
-
Nice não é pra brincadeira não, cara – continuou o garçom – Daqui
a pouco aparece ele aí numa viatura da
polícia civil. .
A partir daí, a prosa passou de crítica musical para atuação policial e outras coisas mais. Inicialmente, ninguém se interessava por essa questão. Posteriormente, a jovem iniciou um processo de recolhimento. A tia xerife era rude, preocupada com o futuro da sobrinha. Essa perturbação também afetava os admiradores. Daquele dia em diante, a turma se reunia para beber, com reservas e sem "liberdades"; Nice entregue a seu namorado de mãos beijadas. Namoro tradicional, sentados na calçada e vez por outra passeando de carro. E ninguém mais marcou presença que se lembrasse do seu nome. No entanto, sempre que ela passava e deixava um rastro de perfume, logo levantava um suspiro geral.
Declarado admirador, acabou se tornando um especialista em Nice. Agora se aventurando numa investigação perigosa, algo que não era de seu agrado. Pelo rastro de fragrância que dela exalava, talvez ocorresse tal envolvimento, no puro instinto.
Isso se tornou normal quando a viatura apareceu para deixar o delegado e,
posteriormente, para capturá-lo. A mesa do delegado, previamente organizada
para o evento, estava sempre em clima de noivado até que se descobriu que ele
estava envolvido com uma jovem de família na capital:
- O nome dela é Susana e cursa pedagogia – disse Edu, bancando o detetive. - Colega de minha irmã - arrematou, como se vingasse com a fofoca mas com o devido respeito.
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