Lá em casa, anos 70, havia uma radiola – esses
meninos não sabem o que é isso e eu explico: era feito uma mesinha que tinha um
rádio AM com várias faixas e um espaço separado para botar os discões tipo LP para
tocar, que pai volta e meia trazia das suas viagens. A empregada vinha e passava
na madeira óleo de peroba, que fazia lustrar tanto o tampo da radiola como a
voz do cantor novo. Diferente. Chocante. Um novo Roberto Calos. Minha irmã mais
velha logo apaixonou-se por ele, em traição a Roberto Carlos, cujo anelzinho de
casamento a gente tinha comprado na loja da Dona Nida, em 1968, no maior entusiasmo.
Aí não era só lá em casa não. No
alto-falante da cidade, no alto-falante do cineminha de fim-de-semana, no
circo, só rolava ùltima Canção e
outras músicas de Paulo Sérgio.
Eu passei a gostar meio escondido de Paulo
Sérgio, mas quando pegava na capa do
disco do rei RC, ainda mais naquela época de ditadura militar, eu ficava com
medo desse gostar – rei é rei, mas eu também o traí curtindo Paulo Sérgio e
chorei o dia em que ele se foi.
E a radiola?
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