terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Nívea

 


 

         Nívia era o nome dela.  Miudinha. Melhor, concentrado feito ovo de cocá. Só que na ocasião eu não sabia do poder do ovo de cocá. Tamanho era documento para mim. Era uma besta. Sérgio Ricardo, mais tímido que eu, foi quem me despertou:

            - Por que você não namora Nìvea? Soube que ela quer paquerar você?

        Estava escolhendo e, emaranhado em sonhos, queria a melhor.  Depois nem quis apurar o que Sérgio dissera. Podia ter falado de sacanagem.  Certo que fiquei meio assuntando em Nívea, que tinha olhos graúdos, amendoados e cabelos escuros.

Corria o ano de 76 e eu parado, descobrindo as novidades em volta. Era meu primeiro ano na capital. Apenas um rapaz latino americano, como dizia nos rádios a canção. Volvi meus olhos para Antônia, que era prima de Francklin e andava com a gente, estilo moleque de rua, falando gírias e o escambau, como diria Paulo, colega, CDF, paulista de Uberaba, para onde voltaria e faria odontologia.

Olhando agora, penso que Sérgio Ricardo, hoje agrônomo, me dera um presente, que eu, enfarruscado, recusei. Nívea era bonita, tamanho decente, e carregava olhos amendoados. Mas a gente dá um salto e vai para outra, igualmente pequena, cara de desabusada, que era Gal, morena de bronzeado forte, dessas que ao mínimo descuido soltavam tinta da pele. Pelo menos na minha imaginação.  Estive na casa dela fazendo um trabalho de grupo. Tinha preferência. Mas não prosperou. Ficamos só na paquera. E no ano em que faríamos vestibular, ela me assustou quando disse no seco:

- Vou fazer pra matemática.

Eu era de Humanas. Mas no nosso ciclo, Leila Fogaça, uma potiguar loirinha e de brilho nos esportes, também era da minha área, hoje uma desembargadora do TRT. E tinha mesmo que ser, porque era aplicada nos estudos. Estilo de Paulo,  que me chamou atenção para a cor de rosa da calcinha que ela usava com o uniforme modelo cocota. Desculpe-nos, Léa, por este ato de  adolescente.

Marilene, essa era do amor platônico. Guitarrista, dançarina e uma ginasta de primeira, com quem tinha o prazer de jogar volebol. Era 10 em tudo, mais que Paulo, nosso representante. Menina que dava gosto aos pais, que deviam morar retirado, longe, noutra cidade, em Recife, por exemplo. Mas ela e a colega de sentarem juntas moravam lá na escola (semi-internato). Com tanto talento, o que  andaram fazendo essas meninas?

Meu boletim dava dó de ver, tantas eram as notas baixas, que eu não dormia bem, pensando que o mundo fosse acabar no fim do ano. Tive que fazer um enorme esforço e passar nas provas finais, tantas eram as chances: recuperação, re-recuperação e por fim a 2ª. Época. Tive que me dobrar nos estudos, que com muita reza acabei tirando um 10 em Português, que serviu para os colegas estudarem, e começaria  ano seguinte como um bom aluno.

Chegamos, por fim, ao fim de 76, quando deixaram o barco Frank, a prima Antônia e o maluco do norte americano Autram. Paulo conseguiu de forma tímida me avisar que seria realizada festa de formatura num clube de nome Campomar, quando eu já estaria de  férias em Candiba.

Ah, Nívia, de tiara descolada, fiquei sem saber ao certo se o que Sergio dissera era verdade. Melhor a dúvida, calculo.

 

Candiba/BA, 22/12/21

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