Iniciações
Essas casquinhas valiam ouro. Nem sabia
como aquilo começou. Se foi mais por ato extintivo dele ou dela, Fernanda.
Essas coisas acontecem sem culpa de ninguém. Ela era mais velha, nos seus 17
anos; com namorado que aparecia só nos fins de semana; ele, nos seus 13, durante
a semana de aulas, só com imaginação. Imaginação do mundo inteiro. Vai que ela
fazia também com o namorado. Pouco mas fazia. Mas com ele, Beto, menino, era
mais à vontade, sem, contudo, demonstrar encegueiramento. Por isso que Fernanda
permitia e até avisava quando o noivo ia aparecer:
- Essa semana não que Jonas vai vir – e
ria, sem entusiasmo algum, como se fosse hora de ele aproveitar mais nesses amassos,
Interessante o respeito que nutria em
relação à menina noiva: não havia beijos, eram só abraços. Mesmo porque ela não
era nada bonita nem engraçada. O normal de uma menina branca, criada na
simplicidade do trato, rústica, pronta para o matrimônio. Falavam com
sussurros. E isso aumentava o tesão de adolescente,
- Você pode ficar mais tempo, que Jonas
mandou recado que será na outra semana a vinda dele.
- É, Fernandinha? – sussurrou.
Ela se abriu num sorriso e perguntou porque
ele estava falando baixo. Respondeu que
era para ouvir a voz dela no mesmo diapasão, que era gostoso. Aí ficaram cochichando como se fosse segredo, ousadia. Pararam com a pegação ao ouvir o irmão Ismael chamar por Beto lá fora. Prometera ausentar-se nos dias de Jonas.
Passava mais ao largo e via as duas
cadeiras na frente da casa. O casal namorava inamovível e num quase silêncio.
Imagem congelada. Umas voltas na pracinha abraçados até a hora de se
recolherem. Haveria repetição na semana seguinte. E até lá, Beto era o
substituto. Era um gol que aprendia a fazer nessas iniciações.
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