Leleco era figura procuradíssima ali no posto. Ao tempo que dava os
tratos nos carros, dava jeito numa coisa e noutra, conforme solicitado. Ficou
chocado o dia que soube que ele havia vendido para outro o terno do próprio
casamento. Tinha sido presente dele, patrão:
- Combinado: terminou meu casamento, não vai precisar mais, já passo pra
ele
Era um negociante, o maluco. Não tinha consideração. Outros valores
decerto. Deu uma olhada no pátio e viu os veículos brilhando ao sol sua
imponência, orgulho dele, Leleco. Tudo que ele pegava era para deixar no trato,
lustrando, era isso.
Adãozinho veio perguntar se o carro do médico estava pronto. Era
uma espécie de leva e traz do posto. Sabia de tudo. Podia lhe passar algumas
dicas.
- Sente-se aqui, Adãozinho. Hoje quem presta contas é você.
Ele riu.
- Você é quem articula garotas pra Leleco?
- Também.
- Mas agora ele vai casar.
- Mas as meninas hoje não ligam pra isso não.
- Mas casado de novo que nem ele, elas ligam.
- Pecado?!
- Pecado! Não pode não.
- Vivendo e aprendendo.
- Pois é, hoje você vai fazer diferente.
- Diferente como?
- Você conhece essa menina de olhos verdes?
- Que manda entregar carta pra Leleco?
- Leleco é casado de novo, pode-se dizer. Você vai arrumar ela pra mim.
- Que também é casado.
- Mas de velho, não de novo como Leleco.
Adãozinho hesitou por um instante. Precisava de argumento, senão esculhambava.
- Ei, Adãozinho, já viu falar do mal dos sete?
- Não.
- Pois é, meu casamento já passou por isso. Não quebra mais. Encascorou.
Compreendeu?
- Compreendi.
- Pois você vai marcar pra mim. Eu já vi ela beirando aqui umas três vezes.
A garota estava escapando mel. Passara mais cedo de bicicleta, de short e num
relanceado de lagarto verde.
Já estava escurecendo, quando Adãozinho
se despediu com um sinal de positivo. E não deu outra.
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