- Cadê uma menina que
brincava aqui todo dia nesse horário?
- Foi embora. A família
levou de volta pra roça.
“Filhos das putas!” –
pensou Edu. Levaram também a tessitura de um cotidiano de rua, que se sabia
triste, de um tipo especial, mas que figurava no cenário. Agora destemperava o
instante.
Apenas para se situar,
nem sabia da classificação da doença. Também não queria ciência por perto, mas
aquela arte de expressão corporal, sem a qual não se realizava o romper de vida.
Depois, ao formular perguntas sobre a menina
da rua, passaria a ser tomado por andar na solidariedade com “doido”. Alguns foram até solícitos, outros
nem tanto. Em resumo, a garota era de uma “família de malucos”. Encobria-se
qualquer discussão:
- Por que ela ficava
como se falasse com a ponta do cabelo? – perguntava Edu.
- Um sestro, não? –
justificava um dos moradores.
Após ter vagado
costumeiramente pelas ruas de bicicleta, sentiu-se incomodado por aquela
ausência. Estando ela na calçada de casa, aproximou-se um dia com um princípio
de papo:
- Por que você não veio
ontem, hein?
Ela não respondeu,
porque não era costume lhe prestarem assunto. Edu também não esperava por resposta.
O importante era ela ali, no quadro vespertino. Até que deu de querer ir na
zona rural atrás dela. Não esperava causar a celeuma que se instalou pelos
cantos.
- Um chefe de família,
aposentado, cuidando desses assuntos, sem utilidade alguma, é não ter o que
fazer– ouvia-se no diário como uma cantiga.
Droga, só falou com seu
jardineiro:
- Como é mesmo o nome
dela?
Pelo menos o nome, para
guardar. Nem isso.
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