sábado, 20 de abril de 2024

Ruth

 


 

Uma menina do primeiro ano ginasial como indicava os traços de pano azul na insígnia da manga esquerda do uniforme, aceitou dançar com Ítalo. E embalava os sonhos dele, quando ali apareceu outro menino que, num rito de moral repressiva,  disse escandindo as palavras:

- Ítalo, sua mãe mandou te chamar.

Mal havia começado a festa. Alimentara um costume de espiar a garota a caminho da escola, daí não lembrar que nessa ocasião ela vestia roupa domingueira e não uniforme.

 Chuviscavam novidades na vidraça do ano de 1972 e Ítalo apenas sonhava. Ele astuciara um voo de namoro com Ruth, uma estudante de ginásio, que achava linda. Imaginava-se com namorico (à distância) com Ruth. E esse era o dia do encontro fatal. Destino traçado, só assim podia ser entendido. Agora, em pleno baile, numa festa de casamento de vizinhança, era atropelado por um “desmancha prazeres”,  desses que andavam fora da escola.

As duas, ela e a irmã, não eram deixadas no ginásio como se despejassem bibelôs, elas desciam da caminhoneta do pai como se fossem umas pricezinhas. De beleza e elegância. De forma que, ao tirá-la para dançar, Ítalo considerava até um ato de coragem sua, nos seus primeiros passos de rapaz. Estava dando adeus aos brinquedos ou, por outra, substituindo-os. Os carrinhos enchiam caixotes abarrotados e esquecidos no seu quarto com paredes enfeitadas de artistas a jogadores de futebol.

Esse menino não era propriamente de rua, mas vivia colocado na casa de um e outro parente até se resolver problema de família. Não brincava de carrinho nem fazia gosto do jogo de bola. Daí que era um sem turma, sem ninguém... Um dia foi mostrar uma novidade que trazia escondido e correu com a meninada. Era um aparelho de pessoa adulta nas mãos de um menino. Desde então passou a ser figura arredia. A meninada com orientação de casa via que ele não oferecia sombra nem encosto.

Depois, conforme se verificaria, o chamado da mãe era pura mentira do primo invejoso. Ítalo carregava essa imagem como marca de momento infeliz. Considerava apenas como mera rasteira nas pretensõezinhas de criança. Tal lembrança vinha agora, no plano de negócios, a propósito de uma enorme rasteira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário