Inês
Inês possuía uns olhos
de mel puro e muitas indagações sobre o universo que a cercava. Magrinha, cabia num abraço roubado, de poucas
resistências, até vir de lá, do portão, um repelão de Alencar.
-
Ei cara, caia fora! – gritava.
- Que eu saiba, ela não
é sua filha e nem irmã, rapaz – dizia Ítalo.
-
Veio morar aqui para olhar os pequenos, e minha tia me recomendou – explicava-se
Alencar, mal humorado, de ressaca, parceiro de sinuca no bar da rua, onde
gastavam algumas horas do dia.
Discutiam outros assuntos também, depois tomavam o café e iam para o trabalho. Um garro
em Inês, a reclamação de Alencar, como se fosse um irmão mais velho de Inês e
não um primo, que economizava com babá, e assim corriam os dias.
Ítalo conheceu na fonte aquele mel no olhar da
garota, ainda trilhando passos na satisfação de suas descobertas de
adolescência. Estava consciente de
figurar como participante desse processo. Mas ao tempo que pensava nela com
carinho, um vacilo o sacudia - medo de gente doida.
- Não fica mexendo com
ela não, que é doida. Está boazinha assim depois ó ,,, - agourava Alencar.
Precisava
confiar naquele brilho que harmonizava perfeitamente com sua pele branca. Isso
poderia adiantar bastante de Inês, passando pelas duas frutas frescas depois de
uma longa caminhada pelos seus cabelos loiros.
Notou de longe, vestida com o uniforme escolar, uma jovem semelhante a
Inês, fora de casa, na rua, na escola. Era a vida em seu estado de latência.
Não podia deixar escapar esse fervor.
Nesse
relacionamento, de amassos e apertões, chegaram aos beijos, por vezes escapados
da mão pesada do primo Alencar,
-
Pare com isso, que Inês é doida e você vai se arrepender - de novo o agouro.
Criou-se
então o chamego. Mas estranheza alguma haveria entre eles num bate-papo
apressado ali no barzinho:
-
Olá, como vai, Inês?
Queixou-se de Alencar:
-
É um grosso, ignorante. Falei que vou contar pra minha tia sobre esse abuso
dele.
Ítalo viu o momento
certo e jogou:
- Vamos lá! A gente
fica mais à vontade.
Acabou entrando no
carro, como se fosse uma carona. Nunca foi tão simples conquistar uma
moça. Contudo, somente Ítalo tinha
conhecimento do preço dos tapas e empurrões que recebeu nas costas durante
aqueles dias. Inicialmente, um reconhecimento por ter participado gradativamente
na construção da primavera de Inês. E avançava lentamente na colheita,
cheirando, mordendo e apreciando as peças:
- Começar pelos olhos,
Inês – Ítalo beijou a pérola do olho como se tragasse longamente.
Depois
de alguns instantes, os dois se acomodavam, juntos na cama, brincando sob as
cobertas, ela, pequena; a blusa era removida pelas mãos serenas e ágeis do
companheiro. Este jogo perdurou por um longo período, até que Ítalo percebeu
que precisava recuar e decidiu por si mesmo, deixando para uma próxima
oportunidade.
-
Você não quer, Baby...
Certo dia, ela apareceu
no seu ambiente de trabalho de forma inusitada: vestida como se estivesse indo
a uma vaquejada fora de época, usando uma camisa junina, calça jeans e botas, tangendo
algo com um chicote. Antes que a loucura se consumasse, ciente das advertências
de Alencar, tratou de atraí-la para o carro e escapar dali. Com mais
tranquilidade, porém ainda demonstrando sinais de indignação, ela dizia
horrores do seu primo.
Com ela, Ítalo teve um
encontro para ser lembrado como algo inacabado. Contudo, depois encontrou
Alencar, durante uma partida de sinuca, que mencionou um instante dessa loucura
em que ele foi compelido a agir sob protestos "daquela louca".
- E cadê Inês? - quis
saber Ìtalo
- A desorientada retornou
ontem para casa dos pais – respondeu Alencar.
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