segunda-feira, 7 de julho de 2025

 

Lena


Ítalo usava uma camisa listrada e uma calça amarela. Era suficiente. Pronto para um São João, celebração típica do interior. Comentavam sobre o fora que Carmem dera a Ítalo.

- Não, senhor, não levei fora nenhum. Carmem, como todos sabiam, era uma namoradeira, já tinha um histórico de namoros – justificava-se.

Na verdade, não havia uma festa; a cidade era apenas alguns pontos festivos dispersos. Assim, ao lado de uma fogueira distante, decidiu se juntar ao grupo com um violão de aprendiz que o pau lhe havia dado, alternando entre conversas e canções. Logo, viu-se rabiscando no instrumento uma canção nova, tipicamente urbana, soul music, que Cassiano havia popularizado: Sei que você gosta de brincar de amores.

- Essa música é da novela das sete – alguém falou.

- Estou aprendendo agora. Ela é boazinha de levar – disse Ítalo.

                   Amauri, um usineiro da região, desceu do carro que acabara de chegar, acomodou-se ao redor da fogueira e pediu bis. Ítalo não se mostrou indiferente e, todo prestativo, atendeu à solicitação do jovem empresário do algodão. Ítalo gostava de ouvir as suas histórias, de quando estudava em Montes Claros, a cidade grande mais próxima. Naquela época, os estudantes voltavam com algumas tentativas de vestibular registradas no histórico ou com a interrupção dos estudos para auxiliar a família no comércio de algodão. Amauri cumprira essa fase mas carregava muitas  histórias suas, de cachaçadas, mulheres, namoros e paixões.

                   - Eu namorava Leninha de Almeida. Fui para Minas e lá me chegou a notícia de que aqui ela estava dançando com uns rapazes de fora. Botei um disco pra rodar no pensionato durante uma semana, fiquei traçando um conhaque Dreher, só ouvindo “Adeeeeus, ingrata”.

                   Disse Amauri que levou tempo para ele se curar daquela paixão.

                   - Mas o que rolou no meio dessa moçada da minha geração foi que Leninha teria sido a culpada de eu deixar os estudos,  mas não,  pura gozação.

                   Enquanto queimavam paus de fogueira, a conversa sobre a paixão intensa do jovem Amauri se prolongava noite adentro, com um friozinho disfarçado pelo quentão que corria entre mãos.

-                  - Não, não era um namorico não, era namoro mesmo, meu irmão.

                   Pegou o copo que passava de mão em mão e deu um trago, depois retornou:

                   - Toquei tanto a música de Claudio Fontana que foi mesmo um “adeus” à Lena, aquela ingrata.

                   - Você tem que fazer agora é companhia a Ítalo, que perdeu sua garota para um desses “paulistas”. Só que hoje não é mais “Adeus ingrata”, ele canta é essa música que acabou de cantar – brincou Ivo.

                 Antes de se retirar para casa, Ítalo colocou o violão na capa, olhando demoradamente para a fogueira:

                   - Amauri, você quer saber de uma, nós somos uns vencedores. E ao vencedor as batatas, que eu vou esperar.

                   Ao redor da fogueira, Ivo afastava uns tições e de forma providencial introduzia ali umas batatas, trazidas pelas mãos do apaixonado Amauri.

 

 

 

 

 

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