A
cidade
a cidade é um monstro
criado por nós
nossos temores
frustrados amores
quando nossa rua já não é nossa
nossa casa tem portões de ferro
há latidos de cães em nossos quintais
suspeitos nossos vizinhos
sem cumprimentos pelos caminhos
a cidade é um monstro
de concreto e cimento armado
músicas faiscantes
passantes
e os homens se encontram nos bares
lares
lares
Minha
cidade
não quero a manhã tarde
que põe mortos os passos
que deixamos pelas ruas
eu quero a tarde caindo em manhãs
dormir na noite que em silêncio de chuva
se derrama
se derrama
nas portas e janelas do casario entristecido
nas folhas esparsas das árvores
eu quero o frescor renovado
como que para o beijo matinal
se unissem outra vez os lábios
e assim despertasse a cidade
Minha
casa
minha casa não tem muralhas-da-china nem
muros carandiru
não estampa guarda de patrimônio de grande
monta
é de muros baixos
vizinhos que se acodem na porção do pó de
café ou açúcar
num dedo de prosa pela manhã
roupas estendidas no varal
frutos de árvores em comum
de patrimônio tal
que a ladrão nenhum
interessa ali roubar
minha casa não tem muralhas-da-china nem
muros carandiru
- vai aí um cafezinho?
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