sábado, 2 de novembro de 2013

Não “magina” nada!...




Pense o leitor em Tacísio Meira nos anos setenta, nas novelas da Rede Globo. Pensou?! Pois você não “magina” nada. O galã perdia de dez a zero para ele. Ele tinha a mesma estatura de Tarcísio, cara meio quadrada, do jeito que as mulheres apreciam (e eu não sei o porquê, mas diz a pesquisa que é essa preferência delas). Era mais para cinema americano que essa coisinha peba de novela da Globo. Lorde. Comprido, magro, branco para moreno, roupas no capricho, voz que dava até para concorrer com Cid Moreira, e, para completar, naquele tempo em que não havia propaganda senão enaltecedora do uso do cigarro, fumava carlton. Sempre na algibeira.

Saiu de Candiba e foi para S. Paulo e de lá voltou desquitado, ou, como se dizia então, largado da mulher.   Disputado, acabou se embrechando com uma viúva nova. A mulher com dois filhos menores num sitiozinho perto da cidade. Beleza pura. Tudo arrumadinho. Ele encontrava roupa lavada e passada. No esmero, que a viúva, não bonita assim mas nova e, como se então dizia, caprichosa, do que ninguém tinha a reclamar, e ele, aquela estampa de homem, para inveja de outras mulheres. Vida que segue.

Trouxe lá de S. Paulo, sabe-se lá, talvez resultado da partilha de bens com a mulher, uma picape tipo C-14, daquelas de carroçarias compridonas, e arrumou de jeito certo essa menina, trabalhadeira, disposta etc. Procurou algum comércio. Melancia. Enchia essa picape de melancia e vinha para praça tomar um bacardi com coca-cola no bar enquanto neguinho passava e escolhia uma melancia, cujo preço recebido seria depois transformado em bacardi com coca e cigarro. A vida era bela.

Fim de tarde, garantido em casa da roupa impecável a janta, acudido pela nova mulher, depois que ela já tinha dado combate em tudo: ração para as criações (umas vaquinhas, galinhas e porcos), lavoura zelada, árvores frutíferas etc.

Mas nesse fim de tarde, aguardando a boca da noite, ela sempre se aprontava, perfumada, camisola diferente, no interesse de uma recompensa com o “artista”.

Então ele chegava da rua... Janta de qualidade e ... Momento. Deitava-se ao seu lado e, ao cabo de alguns dias sem lograr êxito no intento, começou a se insinuar, cheirosa, com o bumbum tocando lá na parte dele:

- Quieta, mulher, não “magina” nada... A gente dá um duro desgraçado... Fica só em casa... Não “magina” nada. – e virava para o outro lado. Aí dormia que roncava e até.. peidava..

E era sempre assim o filme. Até que: CARTÃO VERMELHO. Não “magina” nada.


FEV-2012.

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