domingo, 2 de novembro de 2025

A moça do avental

 

Um grupo de jovens funcionários do comércio local se reunia em torno de uma mesa de chope em um dos restaurantes da Rua Carlos Gomes, como se estivesse celebrando a véspera de um feriado. Ítalo, um vestibulando buscando se refrescar antes das apostilas que teria que encarar, tomava sua cervejinha enquanto observava aquela animação.

Comemoravam com uma garçonete de cabelos afro, que posteriormente retornou sem avental, indicando o fim de seu trabalho, para se integrar ao grupo de forma amistosa.  Recebia abraços de uns e de outros, com beijinhos, quando alguém iniciou, cantando:

- Parabéns pra você – e os demais acompanharam em cantoria.

Até que encontraram uma maneira de acomodar a aniversariante na mesa em frente à de Ítalo. Ele se comportava como um príncipe diante dela, olhando-a com a intenção de um paquera. Pelo entusiasmo da garota e da ora aflorada carência dele, até que valia a pena investir no passe. Não se importou se estava deixando escapar algum charme e continuou com os sinais nem tão discretos assim. Além disso, ela ajudava a encaixar a situação nos trejeitos que ensaiava à mesa. Era uma jovem, afinal. Anteriormente, ela era uma integrante da equipe da empresa, mas agora, sem o avental e mais à vontade, se apresentava como uma usuária comum dos serviços, chegando como uma estrela.

 E ele, distante da nobreza que buscava exibir, carregava alguém que recolhia bitucas de cigarro para satisfazer seu vício. Daí a busca por um momento de enternecimento. Com o desenrolar dos acontecimentos, tudo caminhava para esse clima. Era um quadro alegre da garota e sua turma de amigos. Em práticas festivas das ondas de verão, cores e sons. As imagens eram vibrantes e retratavam a pele escura que recebeu o sol de 1980, simbolizando o início de uma nova década. Com a altivez dos seus vinte anos, Ítalo olhava para a garota, que se surpreendia com seu pedido de aconchego. Ele era branco, mas precisava também de um bronzeado, tinha cabelos pretos com estilo "mato-tomou-conta" e uma barba igualmente selvagem de iniciante.