sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

 

Brabinha

 

                  Acordou ouvindo aquela voz grossa, de estragos nos graves, que incomodavam os tímpanos.  O cara articulava um vocativo, que fazia estrondar por todo velho casarão, só mais tarde decodificado,:

         - Brabinha! Brabinha!- era o que queria dizer o cara das cordas vocais estragadas.                

         Brabinha, que devia ser pessoa responsável por aquela espelunca, calculava Ìtalo, devia ser gente de cabelo na venta, de muita energia.

         - E não um pedaço de gente pisando uns saltos de sapato – como pôde conferir Ítalo espiando da porta.

- Brabinha é você?- perguntou.

- Mais alguma coisa? Sim, esse cara que saiu só me chama de Brabinha, e, quer saber, eu só braba mesmo. Mais alguma coisa? Que aqui não virou banco de praça não.

Ele solicitou uma porção de salsichas com azeitonas para acompanhar a cerveja e observou a mulher rude que emitia ruídos de toc-toc-toc no chão da residência.  Decerto que fazia parte do ritual. Esse estilo de quem já teve sucesso no passado seria um deslize. Ítalo anotou: corpo bem definido e o restante agradável, particularmente a voz e a capacidade de agitar os cachos do cabelo.

 Brabinha apareceu com a porção e reclamando de Zeca que não queria pagar à menina.

- Sacanagem, cara,  tem que cumprir o combinado.

A autoridade moral de Ítalo se juntou à brabeza da mulher que levou só algum tempo para Zeca arrumar seu dinheiro e pagar à menina. Trazia enrustido no tênis:

- Coisa de caloteiro mesmo – disse Ítalo.

         Zeca pegou um palito e ficou beliscando os petiscos, enquanto  aguardavam Rock, o outro parceiro de farra.

- Vou deixar você aguardando Rock pra gente ir embora e vou aproveitar também, que ninguém é de ferro.

- Brabinha! - chamou.

         E era ela mesma, com aquela voz e experiência de toda uma vida.

 

 

 

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