terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

 

Dilma

 

            - Há palavras tão bonitas que, para gostar delas, a gente nem precisava saber de seus respectivos significados – Ítalo iniciava a conversa.

         Sem interferência, ele prosseguia:

         - Palavras como clímax e libido, por exemplo. Que elegância de corpo e beleza de musicalidade elas possuem! – prosseguia com sua maestria.

         E acabava arrematando:

         - Quem assim, ao pronunciar tais palavras, não sentiu a descarga, a chegada ao topo, ao vencer a escadaria da libertação?

         Foi com essa reflexão que Ítalo atraiu a jovem Dilma na roda de amigos e a arrastou para um bate papo de namoro, que abalaria toda a cidade.

         - Um escândalo! – falava Novaes.

         - Uma revolução, isto sim – dizia Rock, contemporâneo e admirador, na roda de amigos no bar, relembrando o dia desse encontro dos jovens.

         E, com gestos, finalizava:

         - Ela, uma das garotas mais atraentes da redondeza; ele, um cara atraente, inteligente e de família rica, é natural que sejam observados, seja em seus gestos ou em suas roupas.

         - Lembro-me desse dia como se fosse hoje. Ele estava aqui, na mesa, no início das férias.

         - Soube que agora estão em conflito. Aquele amor todo, na praça, no clube, nas festas e onde quer que houvesse movimento, agora puf! -  falou Novaes, o proprietário do barzinho.

         - É nada! – replicou Rock, especialista em Ítalo.

         - Certeza! Quer apostar?

         - Briga de namorado, cara!

         Enquanto se especulava sobre um possível romance entre Ítalo e Dilma, o garoto chegou e logo agarrou um taco. Iria jogar sinuca para refletir sobre o tema. Uma forma de deixar de lado os problemas menores. E exibia sua jovialidade naquele final de verão de 1981. Tantas ocasiões para marcar presença, mostrar-se, pelo menos.

         O novo veículo estava à sua espera, porém, por orientação materna, ele não deveria exagerar. Em outras palavras, tinha que desempenhar o papel de filhote de papai, entendimento que ele rejeitava, especialmente agora com a proibição dele de namorar Dilma:

         - É moça para casamento, Ítalo. Não serve para você – aconselhava a tia já à porta do bar.

         - Tia, eles começaram a implicar - soluçava o garoto. - E o serviço de espionagem que eles estabeleceram está funcionando bem, não é mesmo? - questionou com ironia.

         Observou o carro na sombra, limpo e brilhante, como um desses garotos inocentes. Então, sacudiu a cabeça de forma negativa e expressou sua indignação:

         - Não quero mais!

         Numa arrancada, ele partiu, apesar dos protestos da tia ("espera, menino, espera!"), e apanhou o veículo debaixo de uma árvore.   Deixou o carro na garagem, perto do bar, e caminhou até ser detido pela tia, de quem se distanciou antes de voltar à mesa de sinuca.

         - Bola 7! – exclamou na manhã quente de verão, como que despertando para a vida, espantando o barulho que já se formava atrás dele.

         -  É, cara, mas perder esse presente por causa de namoro é fogo!

         - Você acha, cara, que Ítalo vai desistir da namorada por um carro? 

         - Estou com Rock nessa aposta e boto mais três cervejas, pra beber aqui bico seco.

         - Está feito então.

                   No dia seguinte, ítalo se levantou mais tarde. Ele estava ameaçado por uma ressaca moral. Se acomodou à beira da cama e refletiu:

                   - Deixe-me examinar o que fiz de errado ontem: uau, voltei para Dilma! Recordou-se de como ela estava bonita com o cabelo curto e esboçou um sorriso para aquilo tudo.

        

 

 

 

 


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