Dilma
-
Há
palavras tão bonitas que, para gostar delas, a gente nem precisava saber de seus
respectivos significados – Ítalo iniciava a conversa.
Sem interferência, ele prosseguia:
- Palavras como clímax e libido, por
exemplo. Que elegância de corpo e beleza de musicalidade elas possuem! –
prosseguia com sua maestria.
E acabava arrematando:
- Quem assim, ao pronunciar tais
palavras, não sentiu a descarga, a chegada ao topo, ao vencer a escadaria da
libertação?
Foi com essa reflexão que Ítalo atraiu
a jovem Dilma na roda de amigos e a arrastou para um bate papo de namoro, que abalaria
toda a cidade.
- Um escândalo! – falava Novaes.
- Uma revolução, isto sim – dizia Rock,
contemporâneo e admirador, na roda de amigos no bar, relembrando o dia desse
encontro dos jovens.
E, com gestos, finalizava:
- Ela, uma das garotas mais atraentes
da redondeza; ele, um cara atraente, inteligente e de família rica, é natural
que sejam observados, seja em seus gestos ou em suas roupas.
- Lembro-me desse dia como se fosse
hoje. Ele estava aqui, na mesa, no início das férias.
- Soube que agora estão em conflito.
Aquele amor todo, na praça, no clube, nas festas e onde quer que houvesse
movimento, agora puf! - falou Novaes, o
proprietário do barzinho.
- É nada! – replicou Rock, especialista
em Ítalo.
- Certeza! Quer apostar?
- Briga de namorado, cara!
Enquanto se especulava sobre um
possível romance entre Ítalo e Dilma, o garoto chegou e logo agarrou um taco.
Iria jogar sinuca para refletir sobre o tema. Uma forma de deixar de lado os
problemas menores. E exibia sua jovialidade naquele final de verão de 1981. Tantas
ocasiões para marcar presença, mostrar-se, pelo menos.
O novo veículo estava à sua espera,
porém, por orientação materna, ele não deveria exagerar. Em outras palavras,
tinha que desempenhar o papel de filhote de papai, entendimento que ele
rejeitava, especialmente agora com a proibição dele de namorar Dilma:
- É moça para casamento, Ítalo. Não
serve para você – aconselhava a tia já à porta do bar.
- Tia, eles começaram a implicar -
soluçava o garoto. - E o serviço de espionagem que eles estabeleceram está
funcionando bem, não é mesmo? - questionou com ironia.
Observou o carro na sombra, limpo e
brilhante, como um desses garotos inocentes. Então, sacudiu a cabeça de forma
negativa e expressou sua indignação:
- Não quero mais!
Numa arrancada, ele partiu, apesar dos
protestos da tia ("espera, menino, espera!"), e apanhou o veículo
debaixo de uma árvore. Deixou o carro
na garagem, perto do bar, e caminhou até ser detido pela tia, de quem se
distanciou antes de voltar à mesa de sinuca.
- Bola 7! – exclamou na manhã quente de
verão, como que despertando para a vida, espantando o barulho que já se formava
atrás dele.
- É, cara, mas perder esse presente por causa de
namoro é fogo!
- Você acha, cara, que Ítalo vai
desistir da namorada por um carro?
- Estou com Rock nessa aposta e boto mais
três cervejas, pra beber aqui bico seco.
- Está feito então.
No dia seguinte, ítalo se
levantou mais tarde. Ele estava ameaçado por uma ressaca moral. Se acomodou à beira da
cama e refletiu:
- Deixe-me examinar o que fiz
de errado ontem: uau, voltei para Dilma! Recordou-se de como ela estava bonita
com o cabelo curto e esboçou um sorriso para aquilo tudo.
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