quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

 

Garota do chapeuzinho

 

         Na sua pré-adolescência, Ítalo andou pretendendo lançar moda com um chapéu de nylon apanhado na loja da mãe. De cor verde, era até bonitinho.  Mas de onde vinha tal interesse?   De uma mocinha morena, que se protegia do sol com um chapéu de pano, que lhe dava um ar de garota órfã abandonada. Descobriu que ela estava na feira auxiliando alguém em negócio de melancias ou confecções. Para Ítalo, importância alguma tinha a mercadoria. O que tinha valor era o chapeuzinho, que não era vermelho mas cor de rosa, como um prenúncio de vida.

         Então, achou legal adornar-se também com um chapéu da loja. Tal o entusiasmo, que passou a ter dois, com um outro cor de chumbo, mais neutro, como observou o colega Rock:

- Mais adequado para uma pescaria, cara.

Aceitou, porque ele foi um dos primeiros que o acompanhou na moda, adquirindo também o produto na loja da mãe. Fizeram um modesto sucesso com o uso do chapéu. Mas ele precisava conversar com a garota. Ela tinha que vê-lo também de chapéu. E isso seria no sábado seguinte, na feira.

   Então dirigiu-se para o mercado. Iria saber de Zé Calango, que já era rapaz feito.

         - Deve ser filha de um desses agricultores aí, Ítalo – disse. – Para que você quer saber?

         - É que eu gostei dela de chapéu e fico querendo namorar.

            - Fale com ela então.

         - Mas não é assim.

         - E é como?

         - Não sei. Mas vou lá.

         E ia mesmo, e desse encontro saía alguma prosa, monossilábica, mas saía. O bom de Zé Calango era isso, não desencorajava. Pelo menos. Ítalo ficava por ali, assuntando em volta. De vez em quando, perguntava.

- E perguntar não ofende – dizia. – Como você se chama, Chapeuzinho?

- Você já me botou apelido de Chapeuzinho?

         - Então vai ser assim, Chapeuzinho.

         - Como você pode ver, eu estou olhando aqui os produtos pro meu tio – disse com um sorriso tímido.

         - Você não está precisando de um ajudante não?

         Ela percebeu a brincadeira e deu resposta meio cômoda:

         - Tem meu tio, que saiu aí, mas volta logo – disse e, na aproximação de freguês, dando-se por ocupada, impostou mais a voz: - As pequenas de quinhentos e as graúdas, mil. A partir de quinhentos, podem escolher à vontade.     

         Tirou uma nota de duzentos de um pacote que havia no bolso e pediu que ele comprasse caldo de cana para eles.

         - Calor! – falou puxando a blusa para descolar do corpo, quando num lampejo, Ítalo entreviu seus mamilos em formação.

         Ítalo recebeu da garota o gesto mais parecido com um carinho, que fez do chapéu verde oliva um modesto sucesso por esse tempo.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário