Danúsia
Italo
buscava se relacionar com rapazes mais velhos, já que tinha talento e se vestia
como um deles. Até já conseguira assistir a filmes que eram proibidos para
menores. Reconhecia que nessa onda embarcava de carona com Sílvio, que já estava na 8ª
série e dava uma mãozinha no comércio da irmã. E, encostado em Silvio, na
esteira dos seus namoricos, estava assim a colher pequenos frutos. Seguira o lance da calça cor de rosa entre a
moçada. Todo fim de semana, era comum andar na pracinha dentro da moda local.
Agora, o sonho de Ítalo era adquirir o macacão jeans igual ao de Sílvio e dos demais. Achava o máximo. Mas era
como segredo, só ele e Deus. A mãe tinha loja de tecidos e não foi difícil
tirar o corte de pano para fazer a
roupa. Mas não podia nem ouvir
falar no “macacão”, tinha a maior ojeriza.
-
O quê? Aquela roupa com o sovaco de fora, que os homens deixam uns tufos de
cabelo dos lados? Eu tenho uma raiva daquilo. Nem ver! Imagine, seu Neco, que
ele trouxe a nota até com preço e desconto.
Em
busca de um aconselhamento, a mãe recorria logo a um tio avô, idoso, morador do
campo, ignorante, que, nessa oportunidade, estava de visita na sala. Um atraso
de vida que ele não conseguia tolerar. Nesse desespero, ele até cogitava a
possibilidade de fugir de casa. Eles matavam no ninho seus sonhos de criança. O
grande evento estava prestes a acontecer e ele não poderia acompanhar os outros
jovens com o traje da moda. Assim, perdia o encanto que a vida proporcionava. E
ficou imaginando-se. Envergaria a peça jeans
azul e entraria enfileirado no barzinho em companhia de Silvio e amigos. Seria emblemático.
- Essa moreninha da rua dos
crentes é que dava certinho pra mim.
Sílvio achou também.
- Só chegar junto, cara.
- Aí é só para um cara como você,
Sílvio. Elas me acham menino. Você podia namorar ela para mim... ver como é,
depois eu entrava...
Sílvio,
com toda sua didática, balançou a cabeça e riu da inocência de Ítalo. Naquele
dia, ele iria ver a sua namorada mais cedo e voltaria para tentar estabelecer
um contato com a jovem Danúsia (ouviu a companheira dela chamar pelo nome).
Ítalo
consumiu mais bebidas de batida de limão, que Borba costumava oferecer geladas
no bar, e se acomodou para observar Silvio passear pela praça e se despedir da
titular, como era habitual. Depois aparecer passeando com Danúsia, para de imediato
sumir para um recanto escuro da pracinha e dar uns amassos na moreninha.
No outro dia, foi até o comércio em
que de Sílvio trabalhava e, em vez de procurar saber de Danúsia, passou a se
queixar de umas dores generalizadas. Após responder ao amigo sobre esses enjoos que sentia, ouviu Sílvio
gritar:
-
É ressaca! Você está de ressaca, cara,