sábado, 10 de maio de 2025

Vanessa

 

 

Ia criar um personagem, um sessentão e passar a mandar brasa.  Por exemplo, elogiar essa colaboradora. Quem disse de proibição? Achava essa garota uma imensidade. Dizia isso porque  a conheceu antes de ela se tornar essa mulher decidida. Ela estava no auge de sua beleza. Se alguém precisasse de um close, uma esticada no “zoom”, faria isso sem qualquer alarde. Conheceu-a ainda pequena, no seu casulo, protegida por alguém que se dizia experiente, que, por causa dela, havia deixado esposa e filho de um casamento recente.  Por aí podia-se medir o precoce poder de sedução. Quando deparou com o monumento, pôde antecipar o instante que se aproximava. Ela possuía uma voz encantadora e um corpo bem definido de uma mulher fofinha:

- Braço direito ou esquerdo?

Para testar a voz, não precisava cantar. Para uma rádio, seria ela de uma performance encantadora. E como harmonizava bem com a sua força! Quem diria, uma menina que Ítalo nem olhou profundamente, devido talvez ao frescor do sabonete da Monica,  que ainda persistia.

- Braço direito ou esquerdo?

Que bom que ela renovou a pergunta. Ela parecia ter olhos claros!  “Pelo menos, já olha a gente”, pensou Ítalo. Notava-se um acúmulo de bagagem no olhar e na abordagem das coisas. Passarinho, tanta coisa lhe foi dita nesse intervalo! Muitas palavras foram poupadas, guardadas para um momento apropriado. Como agora estava ousando fazer.

Diante do embaraço criado, a esposa aproximou-se para botar ordem na casa. Valendo-se do seu tempo de funcionária da saúde, Selmas arregaçou a manga da blusa dele como se fosse de uma criança:

-  Aplique aqui, Vanessa.

Vanessa seguiu-a com o aparelho e tomou seu braço, então esquecido, agora retomando a vida pelas mãos profissionais da servidora.

Talvez porque ainda boquiaberto, Selma quis refrescar sua memória:

- Você sabe quem é ela, Ítalo?

- De Marcão – respondeu de imediato com o nome do seu ex.

- Já foi o tempo. Não é, Vanessa?

Selma segredou ao marido:

- Marcão pegou ela saltando o muro para sair com outro.

Ouviu falar também de um médico. Ia lembrar isso, mas ela interrompeu:

- Ih, depois teve outro.

            Do portão de saída, Ítalo voltou para trás de si e viu erguer-se uma estampa de mulher formada de corpo, que não deixava de merecer registro.

            - Vanessa, você está de parabéns: mais mulher. Sou mais você agora...

            - Ué, como é que fala assim perto da esposa?

Ele caminhou para o carro, aguardando Selmas, que estava sem entender nada e só questionando.

- Você não a conheceu logo que Marcão apareceu com uma menina ainda meio assustada debaixo do braço?

- Sim.

- Pois bem, foi como pegar uma franguinha e agora, você reparando, é esse espetáculo todo aí,.    

- E a conduta?

- Aí, são outros quinhentos.

- Vocês homens gostam de mulher é assim.

- De jeito nenhum, mas gente não deixa de apreciar. No dizer de meu avô, não devemos culpar a mulher que tem isso.

- Mais essa agora!

-  São mulheres que têm flores brancas.

- E o que é isso de “flores brancas”?

- Mulher que tem flores brancas, homem nenhum mata a vontade dela.

                                                                                                                            

 


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