Josefina
Ítalo havia se apresentado
como um novo professor e, ao se dirigir ao estacionamento para pegar seu carro,
foi abordado por alguns alunos que moravam em sua vizinhança. Caronistas com
certeza. Trocava de palavras com o mestre também:
Professor Ítalo, estamos em
três.
- Conheço todo mundo. Fazia
tempo que não via essa menina, irmã de Roch, Josefina. Como vai você? Resolveu
fazer vestibular?
- Fora do tempo certo, o
professor quer dizer?
Não esperando o mestre esboçar
desculpas, ela emendou;
- É, temos que aproveitar.
Ensino bancado pelo Estado, né?
- Foi tudo apressado, eu fiz o concurso e fui logo chamado para um treinamento
acelerado e assumir a vaga para essa região. E já estamos em sala de aula, né?
Recordava-se
de Josefina como uma das gatas mais desejadas da cidade. Branquinha, com
cabelos pretos adornando um corpo esguio e bumbum bem definido em um jeans
azul. Era um fetiche da molecada. Porém, ela era uma das mais reservadas, como
se não se importasse com o que acontecia ao seu redor. Muitos chegavam a desistir.
Não, Ítalo. Ele era colega de Roch. Tinha mais acesso. Daí o desejo intenso
durante esse tempo. Ele foi estudar na capital, enquanto ela, mais velha, foi
buscar um casamento em S. Paulo. Em seguida, o retorno de uma mulher divorciada
com uma filha pequena. Bem que observou o empenho dela como uma mãe jovem
batalhando como pesquisadora durante o censo do IBGE. Estava nessa e agora
buscava expandir seus estudos. Era louvável, por enquanto.
Estabeleceu-se, então, a
prática semanal de recolher esses passageiros. Às vezes, sobrecarregado de
trabalho, ele nem se importava em manter o mesmo tom nos diálogos. Ninguém
prestava atenção no que ia pela cabeça de gente, mas, sem querer, acabou
ouvindo o que falavam de Josefina:
- Casou com um cara rico e
tudo começou a ruir quando se descobriu que era um fracassado.
- Depois?
- Depois, ela veio embora.
Ele ainda veio aqui atrás dela com mil e uma promessas, até que eles romperam
de vez.
Apetitosa, ela sabia da tara que
despertava nos meninos da cidade. Não conseguia disfarçar esse traço que lhe
era característico:
- Bonita, charmosa, mas é uma
pessoa vissuneira – dizia dela a esposa que o advertia sobre aquela carona garantida
toda semana.
Ítalo observou pelo
retrovisor o rosto de uma mulher que já desfrutou de luxo, mas agora se
encontrava em tentativas vãs. E ele acabava de prestar atenção nela quando a vi
subindo as escadas da faculdade, com livros apertados contra o peito, assumindo
o papel de uma universitária.
Mas no domingo, dia de
corrigir redações no jardim enquanto a esposa lavava os dois carros, foi Ítalo
chamado a se explicar:
- Ítalo, venha ver! – Selmas apontava
para o banco traseiro so seu carro, como se indagasse, que explicação ele dava
por aquilo.
Era um preservativo. Ítalo sacudiu
a cabeça:
- É, alguém deixou cair aí.
Cba. 10/07/25