Selmas II
Soube
depois que a família havia mandado para S. Paulo a menina Talita. Diziam que
para não namorar Ítalo. Por isso que o
tempo parou de escoar ali na cidade, pensava ele enquanto olhava o movimento
lerdo dos carros na rua principal, até que no momento passou um caminhão e de
onde estava Ítalo gritou no estalo:
- Hanrrum! Vocês viram o que
eu vi? Talita na boleia do caminhão!
O dono do barzinho abriu a
boca informando que não era Talita, que essa estava em São Paulo com uns tios.
- Oxe, e quem é?
- É Selmas, a irmã dela, a mais
velha.
- É a cópia fiel de Talita -
disse Ítalo. Depois, arrematou sorrindo: - É minha: eu vou ficar com ela.
-
Ih, pega leve, cara: é minha prima – barrou Ivo.
- É bom que você vai ser o
meu pombo correio e vai dizer a ela que estou na área, que quero namorar.
De dentro de Ítalo bateu uma
certeza: ele iria estar a serviço de vigilância daquela menina, proteção e
participação em todos os seus atos. Não
podia sair por aí, sem anuência dele não. O pombo correio iria entrar em ação.
E não tardou, no dia seguinte ele chegou de retorno. Movia a cabeça
negativamente quando perguntado na tampa:
- E aí, Ivo?
Ivo não viu a uva como na
escolinha, mas a distância da prima para Ítalo. Ela, professora primária, com
uma turma de alunos já arranjada pelo município; e Ítalo, estudante, sem
completar seus estudos, tendo ainda que prestar vestibular. Ivo respondeu como
se fosse jogar água fria na fervura:
- Ela disse que quer casar.
Foi o mesmo que dizer: “Sai
fora, cara. Não é pra você não.” Mas o garoto se manteve firme, não se deu por
vencido, e causou espanto ao dizer de imediato:
- Pois diga a ela que,
coincidência, eu também quero.
Naquela
noite, eles se encontraram na pracinha para tomar uma coca-cola e esclarecer a
situação. Viu de perto a irmã de Talita e a achou tão bonita quanto a outra,
ora uma mais que a outra, em sistema de revezamento.
- Ué, menino, você respondeu
por Ivo que quer casar. Você é um menino ainda.
- Vou fazer dezoito no final
do ano. E pare com essa coisa de me chamar de menino.
Para se comportar assim, decerto
que ela o estaria confundindo com um de seus alunos. Só podia. Naquela manhã,
ele a seguira e ficara encantado ao vê-la de braços dados com um grupo de
crianças voltando do recreio, chupando picolé.
- Peço desculpas – ela disse.
Ítalo, mudando de assunto,
contou umas histórias. Mas viu que só ele falava, então resolveu dar por
encerrado o papo, no que ela se manifestou:
-Vai, por que parou? Conte
mais.
Ele já estava até aborrecido
com a beleza de uma estampa de moça ali de frente, só tratando-o por menino,
como se ela fosse adulta de tamanho ideal e ele como um mero aluno, nada levado
a sério.
- Deseja ouvir mais ? Se você
gosta tanto, compre um livro de histórias – disse, e só não se retirou porque
seria mais feio.
E ela sentiu a bordoada, o
que era suficiente para Ítalo. Em seguida, resolveu a situação com um beijo de
despedida e a renovação da promessa de um encontro. Considerou a partida
desafiadora, com algumas caneladas e erros de arbitragem, mas saiu vitorioso
com um placar magro de um a zero.
O
tempo voltava a escoar e então logo a cidade era pequena para caber a alegria
do mais novo casal de namorados.
- Esses meninos, tem que
pegar eles e casar – ouvia-se diante da pegação dos dois.
Porém, esse era apenas um plano para eles. Não
se estava tratando disso na ocasião, mas havia algumas provocações do lado de
Selmas. Essa forma de agir resultou na ideia das alianças de noivado, que Ítalo
não conseguiu mais adiar. E não custava nada, como de fato não custou.
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