Joelma
Ele
ia à cidade vizinha para fazer compras (uma revista e um disco novo). Em uma
dessas viagens, ele acabou conhecendo uma garota de seu interesse. Com cabelo preto e franja realçando os olhos
grandes e vivazes, ela aprendia a prática do comércio como mocinha na companhia
do pai.
Comprou
umas revistinhas de fantasma e Zé Carioca. Passou numa loja de discos para
olhar alguns títulos e no final adquirir um compacto da cantora Joelma, mais
pela foto de capa que propriamente pelas canções românticas (só pra mim) ali anunciadas. Aí, era passar na sorveteria e ficar no ponto
de volta esperando seu pai. Tinha nada que estar às voltas com tecidos e
confecções. Mas, quando deu por fé, estava dentro de uma loja, admirando a
balconista.
Achou
um encanto a garota. Por isso valia a pena gastar um tempinho vendo ali os
movimentos de uma aprendiz, que, a rigor, mais demonstrava ser uma veterana. De tanto
assim permanecer, acabaria tendo que comprar uma blusa na mão do proprietário
como justificativa.
- Só olhando, por enquanto – falou no
estalo.
- Fique à vontade, moço
– disse o comerciante.
Não podia mais perder tempo; precisava afastar-se, pois não ia comprar nada e, como um possível bandido sequestrador, já tinha observado bem a garota. Ele até conhecia o perfume que ela usava. Talvez devido ao fluxo de pessoas na praça e ao seu comportamento de farejar o local como um lobo mal-intencionado, pensassem em figuras desse tipo. A garota invocava.
De tanto que ficou
apreciando e embaralhando-se por entre peças de panos e confecções
para não ter que se justificar de novo, que passou a gostar do cheiro,
de forma tal que foi ficando. E a imaginação
rompia todos os obstáculos, derrubando muros e abrindo espaços para caber a
largueza dos instantes de intimidades que teria com ela.
- O moço vai levar a
blusa? – quis saber o dono da loja.
No susto, Ítalo somou, de cabeça, o
troco que trazia na carteira com mais uma nota alta escondida no bolso interno da calça para alguma emergência,
e falou nervoso:
- Vou.
Quem saiu para comprar uns gibis e um disco
de sucesso era agora obrigado a se desprender de uma cédula que carregava de
reserva para uma emergência.
- Volte sempre! – escutou da garota
veterana à saída.
Nenhum comentário:
Postar um comentário