sábado, 7 de junho de 2025

 

Joelma

 

Ele ia à cidade vizinha para fazer compras (uma revista e um disco novo). Em uma dessas viagens, ele acabou conhecendo uma garota de seu interesse.  Com cabelo preto e franja realçando os olhos grandes e vivazes, ela aprendia a prática do comércio como mocinha na companhia do pai.

Comprou umas revistinhas de fantasma e Zé Carioca. Passou numa loja de discos para olhar alguns títulos e no final adquirir um compacto da cantora Joelma, mais pela foto de capa que propriamente pelas canções românticas (só pra mim) ali anunciadas.  Aí, era passar na sorveteria e ficar no ponto de volta esperando seu pai. Tinha nada que estar às voltas com tecidos e confecções. Mas, quando deu por fé, estava dentro de uma loja, admirando a balconista.

Achou um encanto a garota. Por isso valia a pena gastar um tempinho vendo ali os movimentos de uma aprendiz, que, a rigor,  mais demonstrava ser uma veterana. De tanto assim permanecer, acabaria tendo que comprar uma blusa na mão do proprietário como justificativa.

- Só olhando, por enquanto – falou no estalo.

- Fique à vontade, moço – disse o comerciante.

Não podia mais perder tempo; precisava afastar-se, pois não ia comprar nada e, como um possível bandido sequestrador, já tinha observado bem a garota.  Ele até conhecia o perfume que ela usava. Talvez devido ao fluxo de pessoas na praça e ao seu comportamento de farejar o local como um lobo mal-intencionado, pensassem em figuras desse tipo. A garota invocava.

De tanto que ficou apreciando e embaralhando-se por entre peças de panos   e confecções  para não ter que se justificar de novo, que passou a gostar do cheiro, de forma tal que foi ficando.  E a imaginação rompia todos os obstáculos, derrubando muros e abrindo espaços para caber a largueza dos instantes de intimidades que teria com ela.

- O moço vai levar a blusa? – quis saber o dono da loja.

No susto, Ítalo somou, de cabeça, o troco que trazia na carteira com mais uma nota alta escondida  no bolso interno da calça para alguma emergência,  e falou nervoso:

- Vou.

         Quem saiu para comprar uns gibis e um disco de sucesso era agora obrigado a se desprender de uma cédula que carregava de reserva para uma emergência.

         - Volte sempre! – escutou da garota veterana à saída.


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