segunda-feira, 14 de abril de 2025

 

Tâmara

 

Ao menor sinal de desconforto, o gesto dela de dizer "ah, um instante" e se abaixar era visto como o momento crucial de desejo e conquista. Ela enfiava a mão pelos cobertores, passando entre as pernas, e, decidida, retirava a calcinha. Quando se anunciou que estava sem ela, ele se revoltou e ordenou que ela se vestisse primeiro. Retirá-la somente depois. Não desejava perder o momento. Durante os períodos de medo, tornou-se um símbolo de sucesso entre eles.  Um segredo extremamente pessoal, que não era de interesse de ninguém. E isso perduraria por toda a sua existência, quando era encantador ouvir: "venha!" Então ele entrava e se aprofundava numa tranqüilidade sem fim, de se ferrar no sono e acordar com raios de sol mal perfurando o telhado.

Ítalo descansou o copo no balcão porque já tinha tomado todas. Achava.

- Mais uma, Ítalo? – falou o garçom.

Acenou negativamente com a mão, mas acabou aceitando quando o rapaz surgiu e desembalou a lata.  Já fazia algum tempo que estava atualizando sua fita de memória. E sempre se enganchava na criação desse instante de sua iniciação. Recordou até uma visita à casa dos bisavós, durante um passeio de bicicleta que realizou com a prima Tâmara e irmãos. Na hora de se recolherem para uma ciesta, os meninos ficaram brincando no quintal. E ele num quarto de hóspedes, que guardava umas malas de couro cobertas por coxinilhos, esperando dela o chamado em voz sussurrada; toco de cigarro atirado pela janela do casarão:

“Venha!”

Durante algum tempo, ainda relacionava o odor da fumaça de cigarro com esse ambiente íntimo, pura intimidade com cheiro de sexo. Daí a sensação de trazer isso como reserva pessoal, talvez um pijama. Além dessa descoberta, a revelação de um mundo inédito, cujo anúncio seria um segredo tácito do Estado. Portanto, na sua mente de doze anos, em silêncio total, precisava caber toda essa maravilha. A professora apresentava seus ensinamentos na didática, enquanto ele apenas a observava. Esse seria o segredo que só os adultos possuíam! “É isso, cara!” pensava na época.

                     Ele percorreria o mundo com essa imagem de uma fita presa.  Não contava mais com a parceria da prima, apesar de insistências suas, que estava mais taludo, até que foi dado um basta final, com o casamento de Tâmara.  Foi desafiador suportar isso até os vinte anos, quando, finalmente, após várias tentativas, as comportas do desejo se abriram. E desembocaram no oceano. Então, depois de superar diversas fases de quase sucesso nessas tentativas, ele caiu no mundo.

Essa análise de fatos não tinha como objetivo outro senão a nostalgia das oportunidades da vida.  "A vida vem em ondas como o mar", tentou entoar suavemente.  "Ela nos proporciona a oportunidade entre uma e outra lambida na areia" - refletiu em sua tranquilidade provocada pelo abuso do álcool.

T

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