Tâmara
Ao menor sinal de desconforto, o gesto dela de dizer "ah, um instante" e se abaixar era visto como o momento crucial de desejo e conquista. Ela enfiava a mão pelos cobertores, passando entre as pernas, e, decidida, retirava a calcinha. Quando se anunciou que estava sem ela, ele se revoltou e ordenou que ela se vestisse primeiro. Retirá-la somente depois. Não desejava perder o momento. Durante os períodos de medo, tornou-se um símbolo de sucesso entre eles. Um segredo extremamente pessoal, que não era de interesse de ninguém. E isso perduraria por toda a sua existência, quando era encantador ouvir: "venha!" Então ele entrava e se aprofundava numa tranqüilidade sem fim, de se ferrar no sono e acordar com raios de sol mal perfurando o telhado.
Ítalo descansou o copo
no balcão porque já tinha tomado todas. Achava.
- Mais uma, Ítalo? –
falou o garçom.
Acenou negativamente
com a mão, mas acabou aceitando quando o rapaz surgiu e desembalou a lata. Já fazia algum tempo que estava atualizando
sua fita de memória. E sempre se enganchava na criação desse instante de sua
iniciação. Recordou até uma visita à casa dos bisavós, durante um passeio de
bicicleta que realizou com a prima Tâmara e irmãos. Na hora de se recolherem
para uma ciesta, os meninos ficaram
brincando no quintal. E ele num quarto de hóspedes, que guardava umas malas de
couro cobertas por coxinilhos, esperando dela o chamado em voz sussurrada; toco
de cigarro atirado pela janela do casarão:
“Venha!”
Durante algum tempo,
ainda relacionava o odor da fumaça de cigarro com esse ambiente íntimo, pura
intimidade com cheiro de sexo. Daí a sensação de trazer isso como reserva
pessoal, talvez um pijama. Além dessa descoberta, a revelação de um mundo
inédito, cujo anúncio seria um segredo tácito do Estado. Portanto, na sua mente
de doze anos, em silêncio total, precisava caber toda essa maravilha. A professora
apresentava seus ensinamentos na didática, enquanto ele apenas a observava.
Esse seria o segredo que só os adultos possuíam! “É isso, cara!” pensava na
época.
Ele percorreria
o mundo com essa imagem de uma fita presa. Não contava mais com a parceria da prima,
apesar de insistências suas, que estava mais taludo, até que foi dado um basta
final, com o casamento de Tâmara. Foi
desafiador suportar isso até os vinte anos, quando, finalmente, após várias tentativas,
as comportas do desejo se abriram. E desembocaram no oceano. Então, depois de
superar diversas fases de quase sucesso nessas tentativas, ele caiu no mundo.
Essa análise de fatos
não tinha como objetivo outro senão a nostalgia das oportunidades da vida. "A vida vem em ondas como o mar",
tentou entoar suavemente. "Ela nos
proporciona a oportunidade entre uma e outra lambida na areia" - refletiu
em sua tranquilidade provocada pelo abuso do álcool.
T
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