Val
Não
se lembrava bem se chegou a paquerar Val ou não, foi um rio que passou em sua
vida apenas. Ela era uma colega de disciplina, garota de cabelos arranjados, discretamente, à
moda afro. De traços finos. Leveza no
trato. Esse o detalhe. Conheceram-se num trabalho de grupo.
Eles se acomodavam na cantina
para realizar o trabalho, enquanto Ítalo observava o jeito delicado de Val e a
atenção que ela recebia. Referiam-se a uma festa na faculdade vizinha de
Administração naquela noite. Andava muito com Alexandre, que corria adiante
para reservar a carteira de dupla:
- É nossa, Val – gritava
sentando-se, as mãos ocupadas com dois acarajés.
- Ué, pensei que um fosse pra Val –estranhou Ítalo.
Ele acionou as duas tochas
dos olhos e se explicou:
- Não, meu filho. Dá a idéia,
né? Mas são pra mim mesmo. Eu como os dois, nesse horário. Eu adoro – disse
recolhendo suas tochas de fogo.
- Por volta das oito da
noite. Ítalo, você, que tem moto, passa pra
pegar Val, que a gente se encontra no portão da escola, tá ok? – explicação de
Alexandre.
- Sua palavra é uma boa
ordem, Lixa – disse Ítalo dando tapinha no ombro do mancebo.
Val,
de sorriso em esboço, cuidava das anotações no caderno:
-
Vamos ver aqui os tópicos que couberam a cada um.
Ítalo
pediu a Val que anotasse o tópico no seu caderno.
-
Não quer que ela faça também não? - Alexandre perguntou. - E o pior é que pra você
ela faz mesmo, né, Val? Ui, ficou com o rosto vermelho, cara.
Com
certeza percebeu a vermelhidão. Ítalo antevia uma delícia de namoro com Val,
delicadíssima em suas atitudes. Ponto para Alexandre. Ele captava o lance que
estava havendo entre eles. Uma relação
distinta da deles, que se assemelhava à de irmãos, que só andavam encabados,
não fosse a diferença de cor da pele, ele branco e ela mais escura. Era
apreciável vê-los assim. Ítalo disse isso
a eles.
-
Val, somos irmãos desde o colégio, certo? E fomos aprovados no mesmo exame.
Assim, Ítalo, você pode contar com o suporte da família.
Val
precisava ir à biblioteca consultar um livro. Val caminhava pela área de
recreação rumo às escadas quando recebeu o abraço de Ítalo:
-
Pego uma carona com você, querida – gritou Ítalo.
De
jeito, acidentalmente, estava atraído pelo perfume que vinha do penteado da
garota, quando não se conteve e a puxou para um beijo, como que para selar a
paquera,
Mas,
“daí a pouco”, pensou com seus botões, “nessa
esteira de raciocínio, Lixa estaria oferecendo a ele a mão da colega em casamento”.
E isso foi como uma sacudida, lembrou-se de que ele já era noivo e o noivado,
numa expectativa de direito, obedecia a rituais que ele somente agora tomava conhecimento. Val era por demais
gente fina. E Italo não podia agir como um imaturo.
Por isso, não sabe
dizer de Val, senão da doce recordação de momento, sem, inclusive, precisar
estar presente na festinha ali no campus.
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