sábado, 1 de junho de 2013

BAR NOGUEI RA



BAR  NOGUEI
RA



O letrista contratado para fazer o serviço na fachada do bar, imaginei assim que deparei com o estabelecimento, devia ter pensado na ocasião “Êta, porra, faltou parede!”, pois o filho da mãe calculara errado o espaço e o corpo das letras, como se pode ver.

- É, mas pelo menos não cometeu erro de separação de sílabas - ponderou um amigo que me acompanhava, diante de minha curiosidade de ali entrar só por conta do nome do bar com aquele letreiro.

O barzinho, que ainda continua ali perto do mercado municipal de Guanambi, ficou por muito tempo, ainda que meio desbotada, com aquela fachada. Sempre que me encontrava naquelas imediações fazia questão de passar em frente, para curtir apenas, até que outro dia divisei o boteco com pintura nova e desenho centralizado das letras com tamanho único – “BAR NOGUEIRA”. Perdi o fascínio. Vai ver mudou de dono e o sacana resolveu fazer sua reforma, queixei-me depois ao mesmo amigo.

- Já que você gosta de apreciar essas coisas, cara, vá lá no boteco de Dori que você vai encontrar uma tabuleta engraçada. Lá serve buchada aos sábados.

Sei lá. Mas tinha essa atração pela forma como o povo em geral se expressa no dia a dia para realizar a comunicação. Ensinava português nessa época e talvez por isso me despertasse para esses detalhes do uso da língua. Um dia pedi que a turma fizesse uma pesquisa na cidade. Então, para estudo e debate, conseguimos anotar coisas como, por exemplo, o aviso que havia num barzinho com mesa de sinuca: “Fincha R$ 0,50”; num açougue, uma cartolina branca com letras desenhadas artisticamente, que o açougueiro, cheio de orgulho, diante do elogio, disse ter sido escrito pela filha: “Não vendemos fiado – Favor não enxista”. Notamos que alguns procuravam mostrar que estavam escrevendo corretamente e aí é que judiavam mesmo da tal gramática. Caso do Café Botafoguense de Dedé. Havia uma tabuleta com o nome das bebidas com os preços correspondentes ao lado: “Penga --- R$ 0,50; Leco de Peque --- R$ 0,50”. Quer dizer, Dedé, numa confusão de ortografia, informava, na verdade, os preços da pinga e do licor de pequi.

Entre nós firmou-se a idéia de que o português é um idioma difícil. Fácil eu sei que não é. Não é à toa que Rui Barbosa travou disputa logo com Carneiro Ribeiro, que tinha sido seu mestre, com relação a redação definitiva do Código Civil de 1916. Imagine. Eu aprendi, no entanto, que o importante é a comunicação. Deixemos, por ora, essa busca sofrida pela língua erudita e vamos às brincadeiras que surgem com o uso que fazemos dela.

Já que me achava nessa onda, fui até o boteco de Dori. Não é que a tal tabuleta era bem trabalhada com letras em entalhes na madeira envernizada! Só que quando li pensei de imediato tratar-se de outro idioma, o espanhol talvez, pois estava grafado assim: “FIADOSOAMANHATA”.

- Ô Dori, que porra é essa que está escrito ali?

- Ué, doutor, não sabe ler? Olhe lá – disse pausadamente: – FIADO SÓ AMANHÃ, TÁ?

Dizem que quando Dori vendeu o ponto para ir para S. Paulo, o comprador fez questão de pagar um pouco a mais para que a tabuleta ficasse no bar. Pelo menos, dessa vez, não aconteceu como no Bar Nogueira, que para essa minha mania acabou perdendo o charme.


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