Comprar e vender revólver – essa a atividade
principal de Galego. Cabelos aloirados e
barba russa em abandono, andava com uma espécie de capanga de couro. Arrastava
no modo de falar um jeito malandro falso de cigano amansador de burro bravo.
Por toda região se estendia o seu comércio.
Tanto dedicava a essa transação que certa vez chegou em Palmas de Monte
Alto numa moto que havia fretado em Candiba para oferecer sua mercadoria a um
moço que dias antes, numa confusão de festa, havia prometido matar seu
desafeto.
- Pode levar esse 32, Jacaré (era assim que ele
tratava as pessoas). Pode levar, que essa é de primeira, não falha, e... (etc).
Só não acabou sendo envolvido num crime
porque quando lá chegou os nervos dos contedores já haviam sido serenados e tudo
estava de lenço branco.
A família vivia pedindo a um e outro
político que lhe desse um jeito arrumando um emprego ou uma colocação qualquer.
Até que por ocasião da inauguração de mais uma agência bancária em Guanambi,
naquela febre do algodão, que era moda inaugurar agências de banco, apareceu-lhe
o emprego de guarda.
A partir daí vamos encontrá-lo todo
fardado, com arma à cintura, cabelo mais curto, à porta do banco recém
inaugurado. Todo falastrão e compenetrado, no seu primeiro emprego, o Galego,
contudo, sem qualquer preparação, não media os seus modos e, sem um mínimo de
subordinação, era de igual para igual com todo o funcionalismo do banco.
Como chegava mais cedo para a vigilância do
banco, postava-se ali diante da porta e via chegar um a um os funcionários. A
cada um que passava, ele, desbocado, dava um tapinha nas costas e completava
com sua saudação meio cigana, meio moleque:
- Diga aí, Jacaré.
E assim foi por uma semana. Até que um dia,
final de expediente bancário, um funcionário veio dizer que o gerente estava
lhe chamando para uma conversa:
- Pois não, Jacaré – foi logo se sentando à
mesa do gerente e apanhando um cigarro.
- É o seguinte, meu filho: aqui não tem nenhum
jacaré. Não estou gostando do seu modo. Eu sou o senhor gerente e assim devo
ser tratado. Do contrário, terei que colocar você na rua. Não gosto de
intimidades. Ou você trabalha sério, em silêncio, ou RUA, entendeu?
O Galego, então, deixou de dirigir ao
senhor gerente aquele tratamento malandro e cheio de intimidade. Só foi mesmo
demitido quando se descobriu mais tarde que aquele forte aglomerado de pessoas
em dia de feira, principalmente, à frente do banco, nada tinha que ver com
movimento bancário mas sim com o comércio que o galego fazia com gente de Iuiu,
Palmas de Monte Alto, Candiba, Pindaí, e toda região.
A procura pelo galego era tanta, que o
gerente, aliás, senhor gerente, teve que designar um funcionário só para
esclarecer às pessoas que ele, o galego, já não mais prestava serviço ali no banco.
Mas
o certo, mesmo, é que o banco até
hoje não conseguiu recobrar aquele movimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário