sábado, 7 de março de 2015

De outro ramo


Comprar e vender revólver – essa a atividade principal de Galego.  Cabelos aloirados e barba russa em abandono, andava com uma espécie de capanga de couro. Arrastava no modo de falar um jeito malandro falso de cigano amansador de burro bravo. Por toda região se estendia o seu comércio.  Tanto dedicava a essa transação que certa vez chegou em Palmas de Monte Alto numa moto que havia fretado em Candiba para oferecer sua mercadoria a um moço que dias antes, numa confusão de festa, havia prometido matar seu desafeto.

- Pode levar esse 32, Jacaré (era assim que ele tratava as pessoas). Pode levar, que essa é de primeira, não falha, e... (etc).

Só não acabou sendo envolvido num crime porque quando lá chegou os nervos dos contedores já haviam sido serenados e tudo estava de lenço branco.

A família vivia pedindo a um e outro político que lhe desse um jeito arrumando um emprego ou uma colocação qualquer. Até que por ocasião da inauguração de mais uma agência bancária em Guanambi, naquela febre do algodão, que era moda inaugurar agências de banco, apareceu-lhe o emprego de guarda.

A partir daí vamos encontrá-lo todo fardado, com arma à cintura, cabelo mais curto, à porta do banco recém inaugurado. Todo falastrão e compenetrado, no seu primeiro emprego, o Galego, contudo, sem qualquer preparação, não media os seus modos e, sem um mínimo de subordinação, era de igual para igual com todo o funcionalismo do banco.

Como chegava mais cedo para a vigilância do banco, postava-se ali diante da porta e via chegar um a um os funcionários. A cada um que passava, ele, desbocado, dava um tapinha nas costas e completava com sua saudação meio cigana, meio moleque:

- Diga aí, Jacaré.

E assim foi por uma semana. Até que um dia, final de expediente bancário, um funcionário veio dizer que o gerente estava lhe chamando para uma conversa:

- Pois não, Jacaré – foi logo se sentando à mesa do gerente e apanhando um cigarro.

- É o seguinte, meu filho: aqui não tem nenhum jacaré. Não estou gostando do seu modo. Eu sou o senhor gerente e assim devo ser tratado. Do contrário, terei que colocar você na rua. Não gosto de intimidades. Ou você trabalha sério, em silêncio, ou RUA, entendeu?

O Galego, então, deixou de dirigir ao senhor gerente aquele tratamento malandro e cheio de intimidade. Só foi mesmo demitido quando se descobriu mais tarde que aquele forte aglomerado de pessoas em dia de feira, principalmente, à frente do banco, nada tinha que ver com movimento bancário mas sim com o comércio que o galego fazia com gente de Iuiu, Palmas de Monte Alto, Candiba, Pindaí, e toda região.

A procura pelo galego era tanta, que o gerente, aliás, senhor gerente, teve que designar um funcionário só para esclarecer às pessoas que ele, o galego, já não mais prestava serviço ali no banco.


Mas  o certo, mesmo,  é que o banco até hoje não conseguiu recobrar aquele movimento.

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