sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

FESTA DE FORMATURA DO 5º. ANO PRIMÁRIO DA ESCOLA RURAL MISTA DE CANDIBA EM 1956 ALUNA: EUNIDES ALVES PEREIRA PROF. FRANCISCO PEREIRA DA SILVA

 

1.                          Nessa viagem com mãe, vou dar cobertura a formatura de quinto ano primário dela, Nidinha, Eunides Alves Pereira. O ponto de referência do roteiro é a sede da Escola Rural Mista em Candiba, município de Guanambi, Bahia, no final da ladeira da atual Rua Presidente Vargas, em novembro de 1956. Era ela uma adolescente de 16 anos, morena, dos escuros cabelos compridos, que desciam até a cintura, fina (58 centímetros), diga-se de passagem, e o sorriso de uma menina atenciosa com o mundo, botando apelidos grudentos nos irmãos, em brincadeiras, porque era assim que vivia naqueles anos cinqüenta, tal como uma ninfa florescendo juntamente com a Vila, para onde a família se mudara proveniente da Fazenda Barreirinho, e ali, na praça da Igreja, se estabelecera, com uma loja de tecidos ao lado da casa.

Um quadro convencional: o pai, Osvaldo Dantas, no balcão, quando não estava na roça, a mãe Etelvina, que o substituía por vezes,  cuidando das coisas e dos meninos lá para dentro. Adaptara-se bem com essa mudança, porque antes tivera como professora dona Dozinha (professora Theodosina Batista), com quem aprendera na roça as primeiras letras. Agora, na Vila, com o professor Francisco, com o quem o pai tivera uma conversa séria antes de proceder à sua matricula. Sobre como iria receber a menina e o que iria ensinar, assegurando o mestre que ela, em aperto, formaria no fim do ano com a turma da quinta série, e daí poderia seguir nos estudos em Caetité:

“Lá nós temos parentes, professor”, planejava Osvaldo Dantas, “é que agora, professor, sem terminar os estudos, não tenho ideia de casar filha minha não”, concluía com ar de preocupado.

Sempre em afinação com a didática do professor, que lhe socorria, Nidinha sonhava com influência do pai, que muito falava desses parentes que deixara em Caetité.

Candiba era aquela pracinha da Igreja, as casas em volta e a serra ao fundo como uma distante fortaleza, feito um abraço reservado para vida futura. O que podia esperar de um dia sempre igual era enxergar naquele vento que agitava a vegetação e sacudia os ares a novidades de uma nova era, que se erguia a partir dali, da Vila, como estreia da jovem Eunides Alves Pereira, futura companheira de Aleci da Silva Prado, que também se fez presente no evento. Afinal, já tinham eles um prévio conhecimento que sinalizava um promissor namoro. Com essas conjecturas, achava-se ela sentada com os colegas, no meio da turma, com sua saia de preguinhas azul marinho (a mãe teve que fazer às pressas, pois o pai não queria saia justa), blusa de um rosa claro, com mangas de três quarto, que se descobria decente. Para abrir os trabalhos, em solenidade, discursou o professor Francisco Pereira da Silva, grande aquisição do então distrito de Candiba, nova denominação do antigo Mocambo, a que ainda não se acostumara a população mais idosa. Depois, acompanhando a chamada por ordem alfabética, Nidinha ergueu-se, magrinha, arrumada, com os seus cabelos que lembravam a graúna alencariana e, empertidigada, caminhou até o professor para receber o diploma, sob aplauso geral e abraço do pai e da mãe, que, a um canto,  carregava uma neném de colo, sua irmãzinha Eneni.

Então já era o baile? Ao som da Safona de Jacob. Mas quem esteve dançando com todo brilho foi o jovem Aleci, que desistira da Escola do professor Francisco no segundo ano, num tempo remoto, e estava agora de volta de S. Paulo, com todo garbo que lhe competia como um soldado que andara servindo no Exército brasileiro, turma de 55. Só que, a considerar, tinha ele que estar dançando era com ela, Nidinha e não com sua colega Dolores, que, percebia, vinha assediando o jovem desde que voltara de S. Paulo.

“Ela já tem umas cabeças de gado. Uma ajuda boa, pra começo, não acha?”, segredava-lhe em pergunta o entusiasmado Benjamim, tio da moça Dolores.

Enquanto assediava-se de um a lado o jovem Aleci, um pesado clima parecia tombar sobre  Nidinha de outro, com as engendradas conversas de Dolores, para ela ir de companheira até as máquinas (usina de algodão) de Joaquim Marques e ver lá um moço loiro, bonito... de Minas... acrescentava como se fosse um prêmio de boa novidadeMais por companheirismo que por interesse, pois que aguardava Aleci, com quem mantinha um flerte (do conhecimento do seu pai, diante de quem se apresentou) acabou cedendo ao malfadado convite. Logo, para surpresa sua, o moço acabou se engraçando foi com ela, Nidinha, a ponto de, na sua apresentação, lhe estender em oferecimento uma maçã, que foi obrigado a aceitar, e, para completar a história, comer. Tudo isso como prato cheio, para contar a Aleci, que lhe fez despertar para uma atitude machista só refreada pela bronca que levou da mãe, dona Ana, quando com ela fora queixar-se:

 - Tome Vergonha, rapaz. Você tem que conversar é com Nidinha, que é moça para você se casar, não é com esse “pescoço de cágado” não, falou insinuando um sestro de superioridade que consigo carregava a moça.

Enquanto consolava saber agora da conversa de dona Ana com Aleci, que terminara por ele acreditar nela, já lhe consolara mais ainda as palavras recebidas de sua mãe Etelvina, quando o mundo para ela teve fim ao ser carregada do baile da casa de seus tios por seu pai, que notou sua ausência e alguém maldosamente lhe dera notícia sua no baile (ela dançava uma moda com João de Antonhezinha):

- Não chore não minha filha, que seu pai gosta de você. Ele quer o melhor.

E olhe que a mãe era considerada uma realista e quase fria de gestos, como esse de solidariedade a sua filha mais velha, chorosa.

Esperou e ele veio. Com todas as cores de seu sonho. E dançaram ao som da safona de Jacob, naquele dia de formatura de quinto ano primário, em que se considerava pronta para prosseguir nos estudos ou aceitar a proposta de Aleci, de conversa marcada com seu pai, sobre o casamento para o ano seguinte, pondo fim ao assédio da colega Dolores e de seus familiares.

 

 



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