sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

“Rolezinho” dos anos 70



Deviam existir duas ou três bicicletas de criança na cidade. Uma era a dele, que o pai trouxera de presente numa viagem que fizera a negócios. Era o lance. Todo mundo na praça onde morava querendo uma “voltinha”. Havia tantos moleques em redor que, comparando, seria hoje uma espécie de “rolezinho”.

- Só uma voltinha.

- Não.

E ele desfilando em duas rodas, bonitinho; os meninos iguais aos meninos pobres de que fala o poeta Manuel Bandeira em seu poema Balõezinhos desejo e espanto.

Aquele ajuntamento de meninos. Nada. Até que apareceu Telma pedindo também uma voltinha. Diferente. Mas disse: “Não”. Telma falou em separado umas coisas:

- Se você deixar eu dar uma voltinha eu me encontro com você.

O que era isso? Diferente mesmo. Só quem tinha isso de encontro era adulto. Queria entender. E então Telma saiu montada em suas duas rodas para espanto e protesto dos moleques:

- Por que você não deixou a gente e deixou essa menina?

Tinha amadurecido naquele momento sem saber. E não sabia mesmo.

Depois que esmerilhou a bicicletinha pelos quatro cantos da cidade, Telma veio devolvê-la já um pouco avançado de horário, sem quase nenhum componente do agora chamado “rolezinho”, mas ele ficara ali pacientemente esperando por causa daquela conversa.

- Pronto. E você quer marcar o encontro pra onde?

Não entendia dessas coisas. Mas, homem, tinha que agir:

- Na garagem lá de casa.

Foram. Os adultos conversavam na sala; eles eram menino e menina.

Não sabia como era “encontro”. Então se lembrou de quando saia com os meninos para caçar passarinhos pelos arredores da cidade  e tinha visto uma figura conhecidíssima como “raparigueiro” com uma mulher no colo. Devia ser assim – pensou.

- Senta aqui – e ela, de shortinho, sentou-se em seu colo, e assim ficaram por um certo tempo, abraçadinhos, pois que foi até aí a lição. Mas já estava ficando tarde para crianças, e então perguntou: - Amanhã você vem de novo?

- Venho.


Está até hoje esperando. E os meninos do “rolezinho” daquele início dos anos 70?

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