Ela
devia ter uns dezesseis anos. Tinha quatorze. Devia ser meio assim sem pai ou
mãe. Tinha pais. Sandra era uma dessas. Não era. Nem conhecia as maldades da
vida. Sandra acabou sendo estuprada e deixada num ermo, numa estrada.
Havia
um carrinho de pipoca na ruazinha que dava acesso ao centro da cidade.
Iluminação não tão precária assim, a menina não tão bem vestidinha se aproximou
para adquirir um saco de pipocas, com coco ralado e um pouquinho de manteiga,
sorriso de quem não demonstra experiência de convívio com as coisas da vida.
-
Seu Zé, o pior que eu não tenho trocado; tenho 20 reais e quero a pipoca.
-
Eu também quero um saquinho de pipoca. Cobre aqui o meu e o da menina.
Gente
boa. Sorriu para ele em agradecimento.
-
Um guaraná ali cai bem.
Ela
assentiu. Um guaraná.
-
Seu nome?
-
Sandra.
Estava
de short e tênis. E ele olhava muito para suas pernas. Mas parecia pessoa
confiável. Iria só terminar de comer a pipoca e tomar o refrigerante. Deu
mais um gole.
-
Vou-me embora.
-
Espere. Eu te levo em casa.
-
Não precisa, vou caminhando; é logo ali no bairro Buritis. Obrigada -
despediu-se com a mãozinha de "até logo" cheio de pulseiras,
dirigindo-se para a porta de saída naquele short "jeans", cuja barra parecia ter
sido feita, com aquelas pernas!..., com os dentes de um dos seus prováveis namorados. Sandra não tinha namorado.
Sandra
foi encontrada depois numa estrada estranha à sua rota, num amanhecer; pássaros riscavam os céus; ela não estaria mais diante do portão do colégio e o
rádio comentava o episódio como apenas mais um dos casos que acontecem no
dia a dia.
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