Se a vida é um teatro, um
filme, então estarei à procura de alguns personagens que fizeram ponta,
figuraram en passant em nossa vida,
sem importância aparente ou devida.
Atrás deles, depois dessa minha morte, dei para andar ultimamente, mas me
desfazendo de suposta importância que por ventura julgava ter. A menina do circo. Por onde agora anda a
menina do circo, essa moça e não essa senhora, essa velha? Não, não a quero
apanhada pela crueldade implacável do tempo. Quero-a na sua fase de
oferecimento, como uma musa, quando comigo se deparou, relacionou-se. Edna ´- um
nome tem o seu sortilégio. Edna, morena de cabelos negros bem assentados,
magra, que cantava e fazia backing vocal,
mãos enlaçadas junto a boca, tirando um som diferenciado. Era filha do dono, o palhaço
e irmã do guitarrista/cantor, ponto para meu olhar perscrutador nessa batida.
Uma estrela de circo médio (tudo crescia ao olhar primaveril). Estrela na
avaliação de um menino que gostava de circo, daquele circo, que passou a gostar
especificamente e ninguém tinha nada a ver com aquilo. Era eu na minha caixinha
e pronto.
Descobri que a menina do circo
trocava revistas de fotonovela com minha irmã.
- E aí? Ela falou o quê?
- Como assim “falou”? Fizemos
a troca simplesmente.
- Muito bonita ela...
- É.
Foi o que minha irmã repassou
do seu curto relacionamento com Edna. Mais curto ainda foi o meu, porque deste
dependente. Até que fiquei um pouco zangado porque nesse negócio não repassou a
magia das coisas. Que tentei alcançar passando durante o dia em frente à casa
que eles alugaram. Também minha irmã era mais velha que eu uns três anos e não
estava atinada.
O nosso relacionamento não
houve (sequer dialogamos); apenas nos vimos fora do espetáculo, quando da troca
das revistas. Por que quero saber do paradeiro de Edna? Ficou uma moça
comprometida com quem teve peito de levar a termo a canção “eu vou tirar você desse lugar”? Ou ficou
uma senhora simpática que lembrava os velhos tempos fazendo uma
apresentaçãozinha de um certo número de pura nostalgia? Ou o circo, como tudo
nessa vida, ...puft..
Tivesse achado novo contato
falaríamos de quê? Depois da internet ainda teríamos do que falar?
Dizia da boca para fora e pelos cantos mas nas
noites ficava pensando nela. Mãos de anjo, no auxílio da voz, em que se
destacava também o esmalte que usava.
Viu como ela nem chegou assim a ser
uma personagem secundária na minha vida? Mas e a menina morena, cabelos
arrumados ao estilo menina de circo, a musa, quando iria acontecer?
Fiquemos nesse doce fascínio,
por ora/sempre, como ficaremos de outros personagens. Como, por exemplo, de Zena,
na sua imagem de garota descolada - rebeldia
enfim sufocada pela família. Pela lógica, de que procuro fugir, Zena deve ser
hoje uma velha, talvez me esperando para um desfecho, tal como uma ave de
lembrança se assentasse em meu ombro, num gracejo de pássaro que vai para a
eternidade, como mais uma figurante, que volta para seu lugar.
Estilo carrapicho, poema genial, meu caro poeta!
ResponderExcluirValeu, amigo.
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