Aos olhos assustados de Edu, ela caminhou esbelta. Parecia uma turista europeia, garota loira de cabelo espetado, mochila às costas, pronta para o que fosse rolar. Se Edu a chamasse para uma loucura, ela nem iria pestanejar:
- Vamos! – diria.
– Deixe aí esses “otários” –
arremataria ela depois, ao tempo que estendia a mão a Edu.
Edu tomaria a mão dela e seguiria numa loucura a dois. Passaria no meio de
gente de mãos dadas com uma garota do topete verde/amarelo, com pinta de
estrangeira. Botava de lado as outras oportunidades que tivera, como quando,
após tempo de espera e silêncio, contemplando os livros na estante, ela
erguera-se:
- Que livro você me indicaria?
Nessa ocasião ele lia muito, contudo mais direcionado para as aulas que
ministrava, sem se ater de imediato ao que podia interessar àquela jovem, que
ali se apresentava como uma bomba de efeito retardado.
- Você gosta mais de quê? – perguntara Edu numa
tentativa de serenar o clima.
Ao que ela, reacendida, devolvera-lhe a incumbência.
- Eu quero saber de você?
Era um fardo, mas Edu se desincumbira logo do livro,
oferecendo-lhe um volume de contos de ficção cientifica, que ela dissera
apreciar. Mas agora ela estava ali na sua sala. Não seria ousadia de sua parte
combinar um encontro às claras? Livro emprestado foi uma etapa. Primeiro, era
só uma jovem, sobrinha da secretária, não era de beleza diferente e não
tinha esse modo de ser. Não tinha se descoberto ainda como mulher, de
cabelo de estética selvagem. E lembrar que ela costumava chegar, procurar
de maneira aleatória algum livro e posar como se o aguardasse ali no
escritório. No final era isso: nada. Ou no mais, conversava sobre devolução de
livros e carga de outros. E ele em que mundo andava, no seu entra e sai,
enquanto o pé de hibisco só florescia e desabotoava no seu quintal?
- Estou deixando esse e levando este, ó? – ela costumava dizer e ia embora com
um exemplar de ficção.
Mas nessas vezes não havia esse corte
de cabelo nem esse jeito de garota européia em passeio pelas serras.
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