Tinha um boteco com placa de Fiado só amanhã, só que todo mundo ali
comprava fiado. Achou bacana, melhorou a decoração depois com outra placa mais
trabalhada, Proibido Fumar; só que todo
mundo fumava assim mesmo, inclusive os não fumantes. Seu Zé tirava onda de
bravo, essa é que era a verdade. Gente boa mas começou a andar meio fraco da
memória, no dizer, porque estava tudo dentro da normalidade.
Era estabelecimento misto de comércio e
residência. Quando ele tinha alguma coisa lá dentro, dona Mocinha ficava no
balcão.
Arlindão habitualmente comparecia para
tomar seu bacardi com coca-cola e participar do zumzum que rolasse.
Mas naquele dia parece que seu Zé variou da
idéia. Arlindão, enquanto conversava previamente com os presentes de costume,
voltou-se para bicar no balcão seu copo de cuba libre e acabou por entrar em
estranheza com seu Zé, com cara de respeito mas de protesto:
- Ei, seu Zé, o senhor se esqueceu de botar
o bacardi; só tem coca.
- “Botiei”, meu filho; que eu “botiei”, “botiei”.
Não “botiei”, Mocinha?
Ora, dona Mocinha teve a formação que a geração da mãe da gente teve, daquelas que morrem com o marido mas morrem atirando, daí a resposta:
- “Botiou”.
- Não falei?
Dois a um contra Arlindão.
- Botou não, seu Zé – e provou a bebida
demoradamente no sorver, movimentando os lábios. – Só a doçura do refrigerante
sem o rum.
Como dona Mocinha era suspeita, estendeu o copo aos demais para uma perícia rápida e emissão de parecer.
- Não botou não, seu Zé.
Passava para outro:
- Botou não, seu Zé.
O terceiro apenas sacudiu a cabeça negativamente.
Seu Zé, gente boa mas dos antigos, que não dava o braço a torcer, não mais
esperou outro parecer, pegou o litro de bacardi para completar o copo de
coca-cola e dizer:
- Que eu “botiei”, “botiei”; vai ficar
forte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário