segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Chocolate

 

 


 

“Eu sei que você não empresta pra ninguém, então vumbora ali comigo levar um pessoal.”

Era Hugão, no seu jeito de apressado.  Avistei de longe as duas meninas com bolsas e mochilas,  com quem ele tratava algum negócio: uma, a branca sem encanto no traje mas jovem, Chocolate batido ao leite - fui logo astuciando apelido;  a outra, por ser escurinha, Diamante Negro,  mais caprichada de corpo num short jeans. Em comum, ambas carregavam na pele a nobreza do chocolate. Nhoc.

Firmáramos num papo ali no bar, mas eu sempre de sobressalto com Hugão.  Ele era um vendedor de produtos do Paraguai, muito esperto, aceso com as coisas. Meti-me com ele por causa de uma antena prarabólica de TV, que ele ficou de consertar e eu acabei perdendo o dinheiro, mas ganharia um amigo.

E ele, que não sabia dirigir carro, mas apenas, por incrível que pareça,  motocicleta,  agia com seu jeito de precipitado, mais perigoso: “Pare aqui pra elas entrarem. Vumbora. Vumbora” – dizia as às garotas e virava-se pra mim: “Agora vá direto e pegue a pista, pegue a pista à direita!”

“O que queria mesmo, Hugão?” Seria uma carona para aquelas meninas, conchavo dele nos seus negócios, namoricos ou coleguismo? Iria deixá-las num ponto de viagem, com aquelas mochilas? Meu fusca seguia religiosamente as instruções de Hugão, num ritmo dele, como se guiasse motocicleta.

“Entra aqui! Entra aqui!”

Quando menos esperava era muito de conhecimento aquela estradinha.  Oxente, era um motel! Que queria Hugão ali com as duas garotas? Foi quando caiu a ficha. Mas ele tinha que ter me falado antes.  Hugão numa das suas. Nem sabia qual dos chocolates era minha preferência.  E eu sem entender nada, mas me preparando, se é que podia, diante das circunstâncias,  falar em preparo.

“Anda logo, porra!”

Tinha que eleger uma no seu ritmo. Ambas chocolates. Como podia  em meio a tanta confusão?

Soltei a branquinha e fiquei de olho nas pernas do Diamante Negro que Hugão abarcava adiante, no corredor.

“Ei! Vou fIcar com essa daí, Hugão”, gritei no estalo.

Mais que ligeiro, estilo Hugão, ele  liberou pra mim a garota:

- Ô  porra, veja se decide logo!

Depois falou no meu ouvido:

- Depois a gente faz a troca.

Peguei meu “crocante” e embocamos no quarto. Como última imagem, eu via Hugão bater a porta em frente, arrancando blusa, nos seus atos preliminares, de braços com a barra de chocolate “galac”, que iria saborear lá para dentro. No seu estilo.

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