Como uma libélula, em
vôo de galinha, o garoto saiu por aí atrás de um besouro morrinhento, estilo vestiu-uma-camisa-listrada-e-saiu- por- aí. Guiava-se
na base do custe o que custar mas acabou deparando com uma moça velha, no dizer
da localidade, que muito modificaria seu propósito. Moça que passou da idade de
casar. O dobro da idade dele. Ele que era um terceiranista do curso de Letras,
pronto para voar, naquele início dos
anos 80.
Gustavo,
cabelo pedindo corte, barba por fazer, bolsa a tiracolo, num estilo
universitário. Apresentaram Gustavo a essa moça branca e sozinha. Não, com o
charme de um cigarro Carlton entre dedos. Camiseta Hering, cabelos castanhos
encobrindo o detalhe do brinquinho,
lábios com discreto batom, e com
certeza algum dinheiro amoitado na bolsa, como uma mulher na esfera de liberada.
Ela se mostrava uma fumante habilidosa
“Ao
menos um ruge, para encarar. O nome dela é Ana” – alguém na apresentação lembrava
quando Gustavo se acercou como interessado.
Dois beijinhos no rosto
de feição agradável e mais alguns esclarecimentos, encaixou-se em dupla com a
irmã de um dos poetas do livro de coletânea lançado naquela noite literária do
ano de 1981. Apenas um motivo. Em meio
as patricinhas de sempre, ele vibrava com Ana, como um troféu em punho (um
brinco brincava de trapézio na orelha, apesar de não ser nenhuma gatinha, livre
de assédio). E no diálogo, ela percebia
essa sua ousadia, que antes procurava arrefecer o entusiasmo dele. Isso, nessa
busca, o tirava do rito de aventura
adolescente e fazia enveredar pelas águas calmas da probabilidade concreta de
sexo, sua obsessão de vida ou morte..
“Por que você não
acompanha seus colegas? Olhe lá: cada um se armando e cadê você? ” – ela
resolveu falar, e ele reparou firmeza no seu timbre de voz.
“Ao lado de você, Ana”
– soprou no ouvido de Dália.
“A gente não pode. Você
perde seu tempo, menino.” – ela falou
depois de um silêncio.
Entendia que falava da diferença
de idade. Boazinha no abraço, não queria largar essa tia descolada:
“Deixe que eu perca meu
tempo com você, Ana: pra mim, é um aprendizado! “ – disse num afago
encostando-se mais num abraço.
Entendendo como uma
cantada, ela, dominadora, sorriu.
“Vou- me embora pra São
Paulo amanhã”.
“Ôxe! Depois que
bagunça comigo vai embora?”
“Vou pra S. Paulo e
tenho que ir”- disse erguendo-se para o ponto de ônibus, talvez com medo da cantada.
“Te ligo pra dar um
alô”.
Passou o número a ela,
que o guardou enfiando o papelzinho no bolso traseiro da calça jeans. Por ora,
ficariam assim: ele olhando o rosto alvo mas cansado, cabelos castanhos, e ela
olhando um menino com esforço de rapaz comum, moreno e playboyzinho, que
procurava diferenciar-se dos demais nos
rasgos de maturidade.
“Você vai me ligar
mesmo amanhã?“ perguntou.
Ela botou em Gustavo os olhos pedintes com
convicção:
“Vou”.
“Já é tarde, eu te levo
até a Avenida Sete. Meu carro está ali” - falou com mais moral que lhe dava o
carro novo.
Acabou cedendo. Foram
para o seu Voyage, onde labutaram um bocado, antes de deixá-la na avenida. Foi
lá que os corpos se resolveram num trato
mais apurado de masturbação: estalos de fivela, romper de fecho eclair, cós de
calcinha, cheirinho de boceta em mãos estudadas; lábios e... grunhidos.
Não podia morrer como
uma libélula tonta, num giro de satisfação carnavalesca, dia seguinte a
empregada veio dizer que Ana ligara para ele para informar que estava
embarcando para S. Paulo.
“Só isso?”
“Ah, pediu pra não te
acordar. Deixou um abraço”.
C
Nenhum comentário:
Postar um comentário