Da lista, que se
elaborava como brincadeira de calouros, naquele ano de 1982, só faltava
Dália, uma paquera burguesa. Era de beleza clássica, inteligente, que parecia guardar
escrito na testa a palavra. Descobria-se nas notas que tirava nas provas.
Ficava sentadinha em dupla com colega, igualmente graúda mas do tipo magra,
comportamento que ate inspiravam conversas com insinuações:
- Ali vai ser difícil.
Elas não são sapatões?
Eram
tranqüilas, do tipo “cabeças feitas”, superiores, e isso era interpretado como
burguesismo. Que fosse! Iria experimentar. Começava por colocações procedentes,
que fazia e que coincidiam com as dela. Até que chegaram a termo de uma
paquera, mas no rito ditado por ela. Ficava assim: assumiram um namorico, de
leve, movido pelas afinidades intelectuais e sua estampa de garoto arrumado
para o papel. Tanto ele servia que a pretensão parecia pro forma para o caso.
Até que, nas despedidas, fora apanhada de volta do hotel meridian, em que ela trabalhava com o inglês que trouxera dos
Estados Unidos. Daí o avanço delas em
comportamento e estudo. Chamou-a para os garros, no playgraund.
- Não
fica de grude como os outros casais. Reservada.
Um dia,
voltando do trabalho, rolava no som do carro música nova de sucesso.
-
Acho essa música de Roberto Carlos linda! - comentava ela apoiada em seu ombro.
Quando eu estou aqui
Eu sinto este momento lindo.
Notava
que ela o queria mais como namorado que namorar propriamente, queixava-se para
o colega.
- Ela
gosta de você, Cara. Porque ela é de outro nível. Claro que não vai ficar nessa
de grude.
Num passeio pela orla,
com a coleguinha Lena de companheira, via-se numa situação constrangedora. A colega se entusiasmou e, quando viu suas
mãos entrelaçadas com as de Dália, acabou bebendo além da conta. As mãos se
davam por debaixo da mesa, de maneira voluptuosa,
num trato íntimo de antigo entendimento. Aí tiveram que assumir
o relacionamento e movimentar na condução de Lena, chorosa, para casa.
Como se fossem eles uns traidores. Ninguém culpado de pensamentos errados de
Lena. Mas supor que havia adrede caso de Gustavo com Dália...
Num
namoro na linha do pro forma, na
pilastra do prédio dela, ele a surpreendeu com sua excitação de fúria
adolescente, batendo firme nas coxas atracadas. Mas não foi isso o motivo do
término por ela, que retornou logo depois para encerrar legal, sem alardeios,
sem danos. Porreta, da parte dela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário