Passou o curso de graduação
cantando Sônia, que um dia, no final, resolveu lhe dar asa, e aí o que fazer
com aquela estátua de deusa? Deu nela só uns amassos apressados, por causa de
um sentimento de transitoriedade que carregava, quando não era provisório, era um
“adeus” apenas.
Muito gastara para
atrair para seus braços essa garota. Desde o segundo semestre que ela caíra na
sua rede de preferência. Gastara não só o tempo, como tudo que oscilava em
volta, sapatos, sorrisos, sonhos, trajes, penteados, perfumes e cabeça:
- Dizem que é manequim
– saía conversa na roda de colegas.
- Isso é verdade porque ganhei dela um cartão
de endereço, número de telefone, com seu nome, e embaixo profissão, grafado em
vermelho manequim - dizia Beto para
exibir prestígio.
- Dá uma moral da porra,
né, bicho? – enalteciam os colegas.
- E tesão. Me dava
tesão - dizia Beto, ainda tímido mas aceso.
- Sem foto, cara: era
só letra – diziam os da objetividade.
Mas tinha a imaginação,
e imaginava o corpaço de Sõnia em suas (suas!) mãos. Nesse corpo se podia nadar
de braçadas, dado o espaço. Tinha um rosto, com aqueles óculos de grau,
bonitinho apenas, mas de menina pronta
para receber adulações.
- É gente boa, mas quem
beira ali cai do cavalo. Ela tem um noivo, cara, que vem pegar na escola. Todo
dia.
Isso só fazia aumentar
o ódio contra o rapaz. Sônia andava sempre com Tânia a tiracolo. Quisesse algo
mais era com ela que tinha que tratar, que ria ante as investidas de garotos
como Beto, motivo até de um estudo, que ele fazia, em separado.
Notou que o humor de
Tânia variava ao sabor da sua protegida. Por vezes, tornava frouxa a vigilância
empreendida. De forma que, de posse desse entendimento, Beto volvia-se em
esparsados distanciamentos. Isso era sentido na conduta de boa vizinhança das
duas garotas. Que até, passado o calundu, permitia tomar umas cervejinhas com
colegas em volta. E era um momento de festa, com Beto, tirando umas lasquinhas,
aos olhos cúmplices de Tânia,. Aprendera, durante esse período, a conduzir-se
respeitando os limites. Trocavam os cigarros. Dava a ela dos seus, de marca
“Charme”, que ela gostava. Fazia poemas e os escondia nos bolsos:
- Esse não. Está verde.
Deixe amadurecer – dizia.
- Deixe ver assim
mesmo, Beto – ela pedia.
- Não - ficava em
suspense.
E o tempo ia passando. Até que enfim, mandou recado por Tânia:
-
Hoje vocês podem ficar... até mais tarde.
E
era uma festinha de ensaio da formatura. Foi um corre-corre nessa labuta de
preparação, de abanar a cauda feito um cãozinho. Dançaram tão agarradinhos, que
não passava uma mosca, com direito a uma enxurrada de beijos e um início de
lubrificação.
Cheio
de expectativa para quando retornasse às aulas (ele agora tinha uma namorada
certa), quando apareceu Tânia com aquela história, que foi um balde de água
fria:
-
Eles reataram.
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