Ítalo teve a ideia.
Criaria os textos e seu parceiro Preto faria os quadrinhos. Não sabiam eles do
alcance de tal projeto, nem em que estariam mexendo. No começo, até que se
limitaram ao convencional de fotonovelas já lidas. Depois, arranjaram-se de
modo novo que embalou a coisa. Com
estilo. Chegava a informação de que a revista caíra em mãos dos garotos da Rua
Nova:
- Eles estavam
comentando, O enredo é bom. O motorista namorava a filha do patrão e teve que
ir embora – falou Nilo, que negociava novidades para aquelas bandas, inclusive
da dupla que Ítalo estava formando com
Preto.
-
Falava o quê, Nilo?
-
Só falava da beleza de Monique. Da bunda
da garota, dos cabelos, dos desenhos,
-
Aí é comigo mesmo – disse Preto.
-
Sai fora, Preto; Você vai ficar... Aliás,
vamos todos ficar no anonimato. Vai ser
arte de Tim H.
-
Quem é Tim H.?
-
Eis a pergunta, meu caro – disse Ítalo.
Tim
H,
ficou então assim batizado. Preto tanto
caprichou na arte dos desenhos, que se
tornara estimulante à criação dos textos. Nesse perpassar, Ítalo via a adolescência espichada ao infinito da imaginação. Daí ter
que elevar a produção caseira, que era de uns dez exemplares.
- Tá ganhado
espaço, competindo até com a revista Grande Hotel – voz de Nilo,
- Você fala que pega lá
na banca de seu Nelson também, Nilo?
E
a dupla vibrava com as vantagens debulhadas por Nilo na mesa do Café, nas horas
em que Preto, por sugestões de Ítalo, rabiscava Monique em mais um evento. Desta vez, no Rio de Janeiro, em busca da
realização de sonhos.
-
Eles querem saber se Monique vai encontrar o carinha da jaqueta ou não – Nilo
contava dos leitores.
De
repente uma escuridão, Preto havia colocado
a mãozona dele no papel e tampado o esboço, de maneira que ninguém via mais
nada. Antes, Ítalo ainda apanhou com uma olhada a ponta do lacinho do biquíni
da garota na praia de Ipanema e guardou dela aquela imagem. Ia ser a capa da revista. Quando Preto
retirou a mãozona do papel, revelou-se ao mundo uma maravilha, na areia da
praia de Ipanema, o corpo de Monique sobrando num biquíni bem transado em dia
de sol.
-
Porra, meu irmão,- essa dá até pra ler no banheiro! –. gritou Nilo.
Firmado
como prática de costume, a empresa Tim H
começou a incomodar gente graúda,
quando o professor de inglês se anunciou em sala de aula da sétima série B, para uma conversa séria,
-
O que esse porra vai querer com a gente?
A maioria dos alunos, já passada de ano,
pouco se dava às preocupações de moral levantadas pela figura exemplar do
professor. Mas, ia-se à luta. Todos
em silêncio:
-- O diretor deste educandário, antes de adotar rígida medida, me encarregou dessa “conversa” com vocês – o professor iniciava,
A turma, sem uma preparação para tal assombro, mantinha-se quieta.
- A mãe de uma de nossas
alunas achou na sua bolsa em formato de revista um desenho pornográfico – disse
e exibiu a bunda bem desenhada de Monique para a turma embevecida.
Uma algazarra iniciou-se
e cessou de vez ante os ensurdecedores tapas na mesa aplicados pelo mestre:
- Silêncio! Proponho
que o aluno responsável por essa pornografia se apresente para assinar um
compromisso de jamais voltar a envergonhar a escola com a fabricação de tal
pornografia, sob pena de suspensão de toda a turma por trinta dias.
Era a Censura, respingo da
ditadura, que chegava por essas plagas.
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