Esperando no Studio
A cunhada dele, envolta em uma toalha de
banho, abriria a porta do Studio, permitindo que Edu entrasse e aguardasse na
antessala. Esse pormenor da toalha não estava previsto no acordo com o
proprietário do Studio. Mas qual era a sua relevância agora? Foi lance rápido,
como pedia a circunstância. E nada a acrescentar senão cenas, em devaneio, de
um ato de loucura.
A campainha soou umas duas vezes. Na segunda,
um barulho de chaveiro foi ouvido. Em seguida, uma porta de vidro se abriu e a estaca
de uma Deusa surgiu em frente, enrolada numa toalha branca e exalando forte
odor de sabonete. Com um sorriso no rosto. Sem pedir desculpas, pela aparente normalidade,
parecia estar à procura de alguém. Edu, de repente, viu o portão se fechar e a
toalha, perto dele, se soltar do corpo, como o invólucro de um bombom.
A propósito, o que iria mesmo fazer ali?
Lembrou-se então que tinha que botar voz definitiva numa gravação já aprontada
por Tadeu dos Teclados. Decerto que ele andara tecendo elogio ao seu talento, que
apareceria para gravar uma composição sua. Tinha mesmo que aguardar, o que talvez
justificasse a exagerada receptividade.
Ela tão garota e ele tão entranhado em anos!
- Mas esses meninos de hoje não dão liga para
isso não – reclamaria egoisticamente Edu.
Cairiam então sobre o sofá, que sofreria um
bocado na fúria com que se encontrariam. Bonita a manchete do outro dia: homem
ataca moça em recepção de Studio. Mas aí, irmão, até explicar que beiço de
jegue não virou chiclete...
- A história seria outra – era o que rolaria
de conversa de rua.
Mas a beleza da garota seria digna de
homenagem.
- De até, respeitosamente, encomendar missa
pelo sucesso alcançado – completaria a conversa de rua.
Um corpo de garota recém saído do banho,
excedendo a fragrância, em sorriso aberto, num afundar-se macio para a vida, só
daria azo a essas imaginações, na mente de um boêmio em decadência como Edu.
Quando se reergueu, notou que a ninfeta
desaparecera com a chegada de Tadeu, que entrou na saleta e, no trivial, chamou:
- Edu, pode entrar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário