Brabinha
Acordou
ouvindo aquela voz grossa, de estragos nos graves, que incomodavam os
tímpanos. O cara articulava um vocativo,
que fazia estrondar por todo velho casarão, só mais tarde decodificado,:
- Brabinha! Brabinha!- era o que queria
dizer o cara das cordas vocais estragadas.
Brabinha, que devia ser pessoa
responsável por aquela espelunca, calculava Ìtalo, devia ser gente de cabelo na
venta, de muita energia.
- E não um pedaço de gente pisando uns
saltos de sapato – como pôde conferir Ítalo espiando da porta.
-
Brabinha é você?- perguntou.
- Mais alguma coisa?
Sim, esse cara que saiu só me chama de Brabinha, e, quer saber, eu só braba
mesmo. Mais alguma coisa? Que aqui não virou banco de praça não.
Ele solicitou uma
porção de salsichas com azeitonas para acompanhar a cerveja e observou a mulher
rude que emitia ruídos de toc-toc-toc no chão da residência. Decerto que fazia parte do ritual. Esse
estilo de quem já teve sucesso no passado seria um deslize. Ítalo anotou: corpo
bem definido e o restante agradável, particularmente a voz e a capacidade de
agitar os cachos do cabelo.
Brabinha apareceu com a porção e reclamando de
Zeca que não queria pagar à menina.
- Sacanagem, cara, tem que cumprir o combinado.
A autoridade moral de
Ítalo se juntou à brabeza da mulher que levou só algum tempo para Zeca arrumar
seu dinheiro e pagar à menina. Trazia enrustido no tênis:
- Coisa de caloteiro
mesmo – disse Ítalo.
Zeca pegou um
palito e ficou beliscando os petiscos, enquanto aguardavam Rock, o outro parceiro de farra.
- Vou deixar você aguardando
Rock pra gente ir embora e vou aproveitar também, que ninguém é de ferro.
- Brabinha! - chamou.
E era ela mesma, com
aquela voz e experiência de toda uma vida.
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