Delícia
Delícia. Andava assim num jeans em que o bumbum (tão bonitinho!),
nem grande nem pequeno, musicava a calça. Fosse vendida depois por causa desse
lance, nessa onda de consumismo, valeria cem mil vezes mais o vestuário dela,
tipo assim a menina de Ipanema, do poeta Vinicius de Moraes, que era de traje
sumário. O poeta tivesse visto faria uma canção até melhor, sem desmerecer a
garota praiana. E agora? Ele não sabia fazer canção. E nem sequer ousar fazer cantada.
Então fotografaria aquilo mentalmente. Para sempre. Estaria no seu disco rígido
e ninguém conseguiria retirar-lhe. Possuidor do material.
Que usufruiria quando desejasse. E o fez. Por diversas vezes. O imaginário se desgastando; já não sabia mais daquele
lance. Então procuraria realidade; algo do retido na lembrança.
-
Quero uma menina, dona Lisa. Passo aí por volta das dez horas. Bumbum e
de calça jeans.
- Vou lhe dar um presente: começou agora.
Ela vai estar fingindo telefonar num orelhão em frente ao hospital lá do
centro.
Quando passou e viu, constatou que não era
presente; era um sonho. Num jeito juvenil de fingir ao telefone público. Deu uma buzinadinha
de nada e abriu a porta do carro. Depois, esqueça-se desse detalhe da calça jeans e fixe-se só na imagem estirada na
cama, assim de não poder nem passar a mão para não causar estrago - um bumbum para ser visto e sonhar.
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