terça-feira, 16 de julho de 2024

Jandira

 

- E você falou com ela do tesão que tenho por ela?

      - Espere... deixe eu contar, rapaz.

- Falou? Falou? Você falou? Hein? E ela estava de saia? Que que ela disse de mim?

      - Ah, ela disse: ele é um menino ainda!                    

Estava bem acomodado na oficina de Dedé, uma figura acolhedora que informava Ítalo sobre esse mundo de adultos. Era um funcionário público solteirão e prosaico. Dedé, especialista em reparo de rádios, conseguia reunir um grupo de adolescentes. O foco era principalmente no futebol. No entanto, na sua precocidade, ele procurava obter informações de mulheres agradáveis com quem Dedé se relacionava. Para preservar sua memória, ele tinha que absorver esse material erótico. Se sentou em um canto, com a camisa aberta ao peito e a mão no bolso da bermuda. Era agradável para eles.

      - Ela separou do marido e está aí ó.

      Como se fosse assim: está aí ó... para quem quiser chegar junto. Dedé parava, deixava que imaginassem.

      - Mas nós só falamos por amizade. Conheço ela desde  ainda mocinha.

      Quando chegava em casa, Jandira, saia justa,  tinha que agachar para apanhar algo do chão. Inclusive com passada de mão dele por trás alisando as coxas. Por várias vezes. No pensamento, podia tudo. Na hora do banho, ele acontecia de entrar e deixar-se envolver pelas pernas de Jandira, que pingava gotas de apetite. Tomava uma espécie imaginária de caldo de cana, mais de cor da pele de Jandira, porém bebia um doce refrescante anseio.

      - Noutra ocasião, você fala com ela, Dedé? Fala?

      - Já falei. Ela te achou menino ainda.

      De qualquer forma ela sabia dele. Era um reforço e tanto. Iria garantir mais uns dias de material.

      - Mas você falou das pernas?

      - Falei.

      - Que que ela falou?

      - Que você é menino ainda. Perguntou sua idade.

      - E você disse, Dedé?

      - Eu disse. Ela falou: da idade de meu filho.

      - Pô! Isso  atrapalha, Dedé. Segue falando mais das pernas.

      Dedé descansou o aparelho de rádio que estava mexendo com chave de fenda e deu uma espiada nele:

      - Você quer é bater uma, cara?

      Queria mas sem o filho dela por perto.

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