- E você falou com ela do tesão que
tenho por ela?
-
Espere... deixe eu contar, rapaz.
- Falou? Falou? Você falou? Hein? E
ela estava de saia? Que que ela disse de mim?
-
Ah, ela disse: ele é um menino ainda!
Estava bem
acomodado na oficina de Dedé, uma figura acolhedora que informava Ítalo sobre
esse mundo de adultos. Era um funcionário público solteirão e prosaico. Dedé,
especialista em reparo de rádios, conseguia reunir um grupo de adolescentes. O
foco era principalmente no futebol. No entanto, na sua precocidade, ele
procurava obter informações de mulheres agradáveis com quem Dedé se relacionava.
Para preservar sua memória, ele tinha que absorver esse material erótico. Se
sentou em um canto, com a camisa aberta ao peito e a mão no bolso da bermuda.
Era agradável para eles.
-
Ela separou do marido e está aí ó.
Como
se fosse assim: está aí ó... para quem quiser
chegar junto. Dedé parava, deixava que imaginassem.
-
Mas nós só falamos por amizade. Conheço ela desde ainda mocinha.
Quando
chegava em casa, Jandira, saia justa, tinha
que agachar para apanhar algo do chão. Inclusive com passada de mão dele por
trás alisando as coxas. Por várias vezes. No pensamento, podia tudo. Na hora do
banho, ele acontecia de entrar e deixar-se envolver pelas pernas de Jandira,
que pingava gotas de apetite. Tomava uma espécie imaginária de caldo de cana, mais
de cor da pele de Jandira, porém bebia um doce refrescante anseio.
-
Noutra ocasião, você fala com ela, Dedé? Fala?
-
Já falei. Ela te achou menino ainda.
De
qualquer forma ela sabia dele. Era um reforço e tanto. Iria garantir mais uns
dias de material.
-
Mas você falou das pernas?
-
Falei.
-
Que que ela falou?
-
Que você é menino ainda. Perguntou sua idade.
-
E você disse, Dedé?
-
Eu disse. Ela falou: da idade de meu
filho.
-
Pô! Isso atrapalha, Dedé. Segue falando
mais das pernas.
Dedé
descansou o aparelho de rádio que estava mexendo com chave de fenda e deu uma
espiada nele:
-
Você quer é bater uma, cara?
Queria
mas sem o filho dela por perto.
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