Não era uma garota
branca de feiura, mas de ausentes traços aparentes de beleza. A questão não era
saber e sim entender. E ele guardava consigo esse entendimento. Por debaixo
daquela blusa de Edite, saltavam uns seios mais arrumados do mundo. Tocá-los
era sensação de chegada ao monte do Everest ou algo parecido, cume de uma
perfeição que maravilhava em demorada contemplação. Isso num ambiente a dois,
em silêncio. Silêncio das montanhas. Para completar, tinha também de positivo
os cabelos louros e sedosos. Ficava até o horário de fechamento dos barzinhos.
Era uma das últimas a sair. Um conhecido passou por ali e viu Beto com ela à
mesa.
- Como é que você se
senta com aquele inseto? – pergunta que dias depois fingiu não escutar.
Também não dera seguimento
ao papo. Dava uma cortada em conversas como essas, que ricocheteavam ofensa à
pessoa humana. Além dó mais, não via essa feiura na moça. Aliás, nem olhava. E,
quando um dia parou para ver, preferiu voltar-se no estalo daquele olhar,
lembrando-se de sua mãe quando se deparava com pessoa assim:
- É de doer.
Por mais que ela se ajustasse
no traje, mas devia em encanto e graça. De outra feita, a colega demorou no
papo, se achando, até descobrir que ela era quem estava sobrando ali e então se
ergueu num gesto de solidariedade a amiga Edite.
Sem defeitos físicos ou outras anormalidades, Beto
passou a manter Edite como sigilo. Não iria dar com a língua nos dentes. Falar
de quê? De roupas? Da prosa? Não se enfeitava, andava no luxo modesto, pouca
prosa. Moça que apenas se prestava ao papel de uma acompanhante e seus
mistérios. Decerto que podiam pensar que diabos queria aquele cara com uma
menina feia daquelas? De sua parte, nunca iriam saber. Da impressão táctil das
suas mãos no deslizar macio sobre os seios montanhosos ou do sono leve para
onde o levavam os caminhos da seda no descanso de guerreiro, depois de
bebedeiras.
Tinha que terminar o
caso. Descobria que ninguém dava importância ao fato. Seus scraps apaixonados morreram com o Orkut. Precisava conversar com
alguém, mas jamais iria procurar aquele que utilizou uma palavra horrível para
se referir a uma pessoa, uma mulher. Não
valia a pena dar espaço de diálogo a um cara daquele. Então ligaria para Edite,
antes de se programar para noite.
- Descobri mais uma
coisa de você – disse ao telefone.
- O quê? – espantou-se
Edite.
- Sua voz é bonita. Com
uns treinos, já pode trabalhar numa rádio.
- Sério?
Depois, aprontando-se para um último encontro, lembrou-se dos versos de Manuel Bandeira: Como deve ser bom gostar de uma feia!
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